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terça-feira, 26 de março de 2013

M Poetica: A Arte de Desafio e Conexão de Michael Jackson - Ghosts




Ghosts

 

 

Ghosts, um curta-metragem de 38 minutos baseado em uma história de Jackson e Stephen King, apresenta o mais completo exame de Jackson da função da arte e do papel do artista. Ele começa com um tropel da vila, carregando tochas, invadindo a mansão de um artista – um contador de história de fantasma – que vive sozinho na periferia da cidade.
Isso tem sido descrito como a resposta de Jackson ao escândalo de abuso sexual infantil, com o prefeito da cidade (e líder do tropel) representando o Promotor Distrital, Tom Sneddon, que liderou as investigações de 1993 contra Jackson e serviu como promotor chefe durante o julgamento de 2005.
No entanto, Ghosts é, também, um interessante exame de nossa complicada relação com arte e artistas.  Nós queremos que a arte mexa conosco, emocionalmente, mas não muito. Arte que realmente nos balança na nossa fundação é “assustadora”, e nós nos ressentimos disse.
Da mesma forma, nós amamos artistas porque eles têm a habilidade de fazer coisas maravilhosas que nos movimentam e nos entretêm.  Mas ao mesmo tempo nós desconfiamos deles e os tratamos como “aberrações”, precisamente porque eles têm o poder de engajar nossas emoções tão profundamente, e porque eles veem tão inadvertidamente diferente.
No filme, o prefeito lidera os moradores da vila em um esforço de dirigir o artista para fora da cidade. (Interessantemente, Jackson interpreta tanto o artista quanto o prefeito durante o filme). A declarada razão para banir o artista é proteger as crianças da vila. Ele é acusado de assustá-las com histórias de fantasma, mesmo eles vindo em defesa dele e dizendo que gostam das histórias dele: eles sentem medo, mas de divertem.
Porém, as palavras do prefeito implica que ele é também motivado por uma desconfiança do artista, porque ele é muito diferente. Como ele disse várias vezes, “Ele é um esquisito. Não há lugar nesta cidade para esquisitões”. “Nós temos uma agradável cidade normal, pessoas normais, crianças normais. Nós não precisamos de aberrações como você contando histórias de fantasmas.” “Você é esquisito, você é estranho e eu não gosto de você. Você tem assustado estas crianças, vivendo aqui em cima, sozinho.” E, “Volte para o circo, sua aberração”.
Como em bad, o personagem de Jackson se encontra sozinho e sob ataque por uma gangue dos próprios vizinhos dele, e, como em Bad, ele responde chamando uma imaginária gangue de pares, uma trupe de dançarinos, para ajuda-lo a confrontar a ameaça – embora desta vez haja uma tropa de espíritos macabros que se juntam a ele na dança. Eles até têm o mesmo maneirismo e começam a mesma chamada e resposta que ele está cantando no fim de Bad: “Diga-me que você está errado”. Ele está falando para o prefeito exatamente como ele falou com o líder da gangue em Bad, desde que, ambos, de algumas formas, são líderes de gangue – um apenas mais oficial que o outro.
Ele, sem seguida, dança e canta com a trupe de fantasma, aparentemente em esperança que o poder da arte e música criará uma conexão emocional e atmosfera de respeito com entre ele e os moradores da vila, exatamente como fez com os membros da gangue em Bad. E faz, pelo menos com as crianças da vila e a maioria dos adultos. Eles ficaram em transe por causa da dança, e começaram a apreciar a estranha beleza criada pelo elenco de esquisitos dançarinos. No entanto, o prefeito continuou imutável. Enquanto o líder da gangue em Bad ficou abalado o suficiente pela dança para pedir uma trégua, apertando a mão do artista e garantindo o espaço dele na vizinhança, o prefeito em Ghost, não.
A música termina como um assombrosamente belo coro enquanto os fantasmas voam para baixo, vindo do teto, criando uma escultura viva. Os moradores da vila focaram tontos, mas o prefeito se recusou a acreditar na estranha beleza da performance, e o artista lhe deu um profundo olhar. Esse foi um dos mais pungentes momentos de todo o trabalho de Jackson. O artista está obviamente ferido pelas palavras do prefeito, e ele está furioso com ele por lhe invadir a casa e liderar os moradores da vila contra ele. (Como ele canta durante a dança: “Você está buscando somente a mim./Você está me enojando.”). Mas apesar da mágoa e raiva dele, o artista continua se estendendo até o prefeito, encorajando-o a descobrir a beleza e o poder da arte. Porém, o prefeito ativamente resiste ao encanto da experiência,  ou simplesmente não a compreende. De qualquer forma, ele não pode apreciar as “assustadoras” músicas e dança que ele está testemunhando. Ele não está, portanto, abalado pelo que ele viu e não tem nenhuma apreciação pelo artista que criou isso.
O artista responde se transformando em um esqueleto dançarino e puxando o prefeito para a pista de dança. Quando isso também não funciona, ele dá um passo à frente: ele se torna um espírito e, literalmente, entra no corpo do prefeito, forçando-o a dança e a fazer parte da experiência artística. Em vídeos anteriores, Jackson frequentemente usou empatia para entrar nas mentes dos outros e entende-los melhor. Dessa vez, no entanto, é uma troca bidirecional: ele também quer que o prefeito o entenda, o artista, assim, ele literalmente se derrama dentro do prefeito e o força a dançar. Se o prefeito experimentar a alegria da dança, por si mesmo, talvez, ele compreenderá a perspectiva do artista. Talvez, ele estará mais disposto a reconhecer a humanidade em outros, mesmo “esquisitos” e “aberrações” e artistas. Talvez, ele até venha a apreciar o valor da arte em si e perceber por que histórias de fantasmas são tão importantes, para crianças bem como para adultos.
Assim Jackson, no papel parelho dele como o Prefeito, conduz uma das mais incomuns danças da carreira dele: como um homem forçado a dançar contra a vontade dele. Ele gira, faz moonwalk, agarra a virilha dele – todos os movimentos clássicos de Jackson, mas os membros do prefeito empurram enquanto ele resiste à compulsão do próprio corpo dele para dançar. Mas isso não funciona também. A dança não é transformativa para o Prefeito. Enquanto muitas das pessoas da cidade ficam envolvidas pelo espírito do momento e começam a dançar e completamente experimentar a alegria, para o Prefeito isso é mais como uma forma de tormento. Ele odeia isso, e resiste à dança o tempo todo, até que ele finalmente grita: “Pare!”.
O espírito imediatamente o liberta da dança, mas segura um espelho diante do rosto dele. Isso é um lugar comum para dizer que arte é como um espelho, forçando-nos a nos ver de uma forma diferente. Em Ghosts, essa ideia é apresentada literalmente.  O braço do artista sai de dentro do corpo do Prefeito e segura um espelho diante do rosto dele, que está em metamorfose sob a influência do artista dento dele, para revelar ao Prefeito a própria esquisitice interior. O Prefeito, que tem repetidamente chamado o artista de aberração, é forçado a ver o que está sendo revelado na própria face e perguntar a se mesmo; “Quem é assustador agora? Quem é a aberração agora?”.
O artista, em seguida, deixa o corpo do Prefeito, suspira, e diz: “Então, vocês ainda querem que eu vá?”. Em outras palavras: a experiência funcionou? A exposição do Prefeito ao poder do artista – por ouvir a assustadora música e por dançar, ele mesmo, por ver a face dele no espelho e testemunhar a própria aberração interior – mudou a cabeça dele? As o artista já sabe a resposta. Ele esteve dentro da cabeça e do corpo do Prefeito e sabe que ele é resistente à dança. Quando o Prefeito replica: “Sim! Sim!”, ele ainda quer que o artista vá embora, o artista não está surpreso. E assim o artista parte – não caminhando no chão, mas destruindo-se.
Mas, é claro, um artista nunca morre realmente, enquanto a obra dele perpetua, e essa concepção é retratada literalmente em Ghosts, também. Tão logo o artista morre, ele renasce como uma obra de arte: uma enorme estátua viva com uma face de pedra, grande o bastante para encher soleira. (Depois de tudo, Jackson deixa para trás um enorme corpo de trabalho.) Quando o filme venta em direção a conclusão dele, nós descobrimos que a obra do artista é ainda mais poderosa que o próprio artista. O vídeo, destarte, termina com o Prefeito banido, o artista restaurado, e algumas crianças seguindo o caminho delas de se tornar artistas, elas próprias.
É um caprichado final legal, mas isso não parece assim, em muitos aspectos. A atmosfera do filme é nervosa, e não se aquieta durante, nem mesmo na conclusão. O artista Jackson retratado não é um entertainer reconfortante, um contador de reconfortantes contos de fadas. Em vez disso, ele é um poderoso artista – um Maestro, como ele é listado nos créditos. Ele está no controle, é imprevisível e possui habilidades sobrenaturais. Os habitantes da vila estão, compreensivelmente, desconfiados dele, mesmo no fim, embora eles riam nervosamente e respondam quando ele comanda. Ele é um amestro das emoções dele, assim como da arte dele, e ambos o respeitam e desconfiam dele por isso.
A mensagem global de Ghosts é que, como histórias de fantasma, arte significativa é tanto divertida quanto “assustadora”: é poderosa, perturbadora, ameaçadora. Ela nos inquieta, e nos força a confrontar verdades desconfortáveis. Ela segura um espelho diante de nossos rostos (literalmente, no caso do Prefeito), e nos força a olhar para nós mesmo de forma diferente.  O artista cria uma experiência para nós com um propósito em mente. Nosso trabalho com audiência é estarmos abertos a essa experiência. Como o artista pergunta durante o filme, em diferentes pontos ao longo do caminho: “Eu assustei você?” ou “Você já está assustado?”. Nós temos nos permitimos ficar completamente envolvidos pela experiência que o artista preparou para nós? Essa é a diferença entre as crianças (que prontamente admitem que elas gostam de ser assustadas, mas mesmo assim são tocadas e alteradas pela experiência) e o Prefeito (que absolutamente resiste à experiência artística até ser, finalmente, banido).

 

 

 

 

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