Menu

sábado, 27 de outubro de 2012

Capítulo 7 - Invincible : " Threatened "


 
16.        THREATENED


(Escrita e composta por Michael Jackson, Rodney Jerkins, Fred Jerkins III e La Shawn Daniels. Produzida por Michael Jackson e Rodney Jerkins. Gravada por Stuart Brawley. Edição digital: Stuart Brawley. Mixada por Bruce Swedien, Rodney Jerkins e Stuart Brawley. Vocal guia e backgrounds: Michael Jackson e Rodney Jerkins. Fragmentos de áudio de Rod Serling, cortesia da CBS Broadcasting Inc.)

 
Embora seja relativamente desconhecida (enterrada no final do álbum menos conhecido de Jackson), “Threatened” é uma é uma pedra angular digna aos predecessores de tema de horror dela (“Thriller”, “Ghosts”, “Is It Scary”). Ela é, também, um apropriado oficial finale para o catálogo de Michael Jackson, explorando muitos dos temas – monstruosidade, metamorfose, medo, decepção e a interrogação de valores normativos e expectativas que o preocuparam por toda a acarreia dele. As pessoas muitas vezes se esquecem de que Jackson continuou tão fascinado por terror sombrio de Poe quanto era pela inocente fantasia de J. M. Barrie. “Threatened” representa esta dimensão sombria, tumular, gótica de Jackson. Apresentando narração assustadoramente remendada de um ressurreto Rod Serling (criador do Twilight Zone), a faixa esmagadora termina Invincible com uma reviravolta perversamente subversiva.

Jackson planejou criar um curta-metragem com tema de horror para a música, completo com efeitos especiais de ponta, mas quando a Sony cancelou as promoções para o álbum, isso significou que não haveria orçamento para os vídeos. Sonoramente e liricamente, no entanto, “Threatened” deixa muito estímulo para a imaginação: paredes encarceradoras, gritos distantes, salões escuros, avisos ameaçadores. Contra uma “compulsiva sequência de cordas ascendente” e batida de uma tumba ao fundo, Jackson canta da perspectiva do monstro: “Eu sou o morto-vivo, os pensamentos sombrios na sua cabeça.”

Por se “tornar” um monstro, Jackson é capaz de falar através de uma voz ou personagem imaginado. “Você está com medo de mim, porque você sabe que eu sou uma besta”, ele diz. Esse é um papel que ele, claramente, saboreia (voltando a “Thriller” e mesmo depois). No refrão, ele avisa: “Você deveria estar me observado, você deveria estar assustado/Enquanto você dorme, enquanto você rasteja, você deveria estar assustado.” O crítico musical Sal Cinquemani descreveu a faixa como um “destaque... ‘Thriller’ do novo milênio”. Enquanto a comparação com Thriller seja natural, entretanto, “Threatened” deveria, também, ser entendida como uma continuação da expressão gótica de Jackson, em Blood on the Dance Floor, no qual ele, realmente, começou a explorar as implicações psicológicas e sociais do gênero. Uma das implicações de músicas como “Threatened” é que a monstruosidade é uma construção social, que faz o caminho dela na mente das pessoas. Michael Jackson é um monstro por causa do que ele representa para algumas pessoas, porque ele rompe o senso social do que é normal e natural. Como “Is It Scary”, entretanto, “Threatened” vira as mesas, forçando-nos a questionar como nós delineamos normalidade e monstruosidade. Muitas vezes, a maioria desses “normais” no exterior são mais “monstruosos” no interior. Na arte gótica, essa lógica é sempre invertida: o grotesco é sempre no exterior (em forma exagerada), mas sempre simboliza algo mais profundo, algo mais profundamente enterrado. 

“O principal ingrediente de qualquer receita para medo é o desconhecido” diz Rod Serling, na introdução da música. “Threatened”, portanto, força-nos a considerar os ingredientes que fazem de um monstro um monstro. Por que nós o tememos? Por que ele é assustador? Como lidamos com esse medo e percebida ameaça? 

“Threatened” também retorna o álbum às questões tecnológicas que ele levanta nas primeiras faixas (e na capa). Ela é, em essência, um “Frankenstein” digital – um patchwork de partes díspares remontadas dentro de algo estranho e novo. Os versos de Rod Serling foram remendados a partir de uma variedade de diferentes episódios de Twilight Zone. Os efeitos sonoros – corvos, grasnados, sinos dobrando, etc. – foram, também, retirados de uma máquina tecnológica temporal e readaptados para a música. Nada na música é analógico – a bateria, teclado, tudo é tecnologicamente produzido. A única coisa que é natural é a voz de Jackson – embora, para o fim da música, ele a distorça tão bem quanto através e um tipo de falha-efeito intencional, brilhantemente transmitindo a singularidade dele com as máquinas que medeiam o que nós escutamos. Há uma variedade de interpretações potenciais para isso, uma delas sendo (para parafrasear Marshal McLuhan), que o médium é o monstro. Talvez, isso seja percebido como tal apenas porque ele é “desconhecido” e, além do mais, assustador. Como Dennis Yeo Kah Sin nota: “Esta manifestação transumana... questiona fundamentais suposições de nossa humanidade e existência, quando o horror de um humano artificial... reemerge em uma forma atualizada, com a possibilidade de novos tipos de vida simulada... O terror do monstro gótico jaz, precisamente, na constituição indeterminada dele”. 

A música termina com a provocativa conclusão de Serling: “O que você acaba de testemunhar poderia ser o fim de um terrível pesadelo particular. Não é; é o começo”.

Uma fascinante expressão techno-gótica nas extremidades da Era da Informação, “Threatened” é uma apropriada conclusão para o último álbum completamente lançado de Jackson.

  

 

0 comentários:

Postar um comentário