16.
THREATENED
(Escrita
e composta por Michael Jackson, Rodney Jerkins, Fred Jerkins III e La Shawn
Daniels. Produzida por Michael Jackson e Rodney Jerkins. Gravada por Stuart
Brawley. Edição digital: Stuart Brawley. Mixada por Bruce Swedien, Rodney
Jerkins e Stuart Brawley. Vocal guia e backgrounds: Michael Jackson e Rodney
Jerkins. Fragmentos de áudio de Rod Serling, cortesia da CBS Broadcasting Inc.)
Embora seja relativamente desconhecida (enterrada no
final do álbum menos conhecido de Jackson), “Threatened” é uma é uma pedra
angular digna aos predecessores de tema de horror dela (“Thriller”, “Ghosts”,
“Is It Scary”). Ela é, também, um apropriado oficial finale para o catálogo de Michael Jackson, explorando muitos dos
temas – monstruosidade, metamorfose, medo, decepção e a interrogação de valores
normativos e expectativas que o preocuparam por toda a acarreia dele. As
pessoas muitas vezes se esquecem de que Jackson continuou tão fascinado por
terror sombrio de Poe quanto era pela inocente fantasia de J. M. Barrie.
“Threatened” representa esta dimensão sombria, tumular, gótica de Jackson.
Apresentando narração assustadoramente remendada de um ressurreto Rod Serling
(criador do Twilight
Zone),
a faixa esmagadora termina Invincible com
uma reviravolta perversamente subversiva.
Jackson planejou criar
um curta-metragem com tema de horror para a música, completo com efeitos
especiais de ponta, mas quando a Sony cancelou
as promoções para o álbum, isso significou que não haveria orçamento para os
vídeos. Sonoramente e liricamente, no entanto, “Threatened” deixa muito estímulo
para a imaginação: paredes encarceradoras, gritos distantes, salões escuros, avisos
ameaçadores. Contra uma “compulsiva sequência de cordas ascendente” e batida de
uma tumba ao fundo, Jackson canta da perspectiva do monstro: “Eu sou o
morto-vivo, os pensamentos sombrios na sua cabeça.”
Por se “tornar” um
monstro, Jackson é capaz de falar através de uma voz ou personagem imaginado.
“Você está com medo de mim, porque você sabe que eu sou uma besta”, ele diz. Esse
é um papel que ele, claramente, saboreia (voltando a “Thriller” e mesmo
depois). No refrão, ele avisa: “Você deveria estar me observado, você deveria
estar assustado/Enquanto você dorme, enquanto você rasteja, você deveria estar
assustado.” O crítico musical Sal Cinquemani descreveu a faixa como um
“destaque... ‘Thriller’ do novo milênio”. Enquanto a comparação com Thriller seja natural, entretanto,
“Threatened” deveria, também, ser entendida como uma continuação da expressão
gótica de Jackson, em Blood on the Dance
Floor, no qual ele, realmente, começou a explorar as implicações
psicológicas e sociais do gênero. Uma das implicações de músicas como
“Threatened” é que a monstruosidade é uma construção social, que faz o caminho
dela na mente das pessoas. Michael Jackson é um monstro por causa do que ele
representa para algumas pessoas, porque ele rompe o senso social do que é
normal e natural. Como “Is It Scary”, entretanto, “Threatened” vira as mesas,
forçando-nos a questionar como nós delineamos normalidade e monstruosidade.
Muitas vezes, a maioria desses “normais” no exterior são mais “monstruosos” no
interior. Na arte gótica, essa lógica é sempre invertida: o grotesco é sempre
no exterior (em forma exagerada), mas sempre simboliza algo mais profundo, algo
mais profundamente enterrado.
“O principal
ingrediente de qualquer receita para medo é o desconhecido” diz Rod Serling, na
introdução da música. “Threatened”, portanto, força-nos a considerar os
ingredientes que fazem de um monstro um monstro. Por que nós o tememos? Por que
ele é assustador? Como lidamos com esse medo e percebida ameaça?
“Threatened” também
retorna o álbum às questões tecnológicas que ele levanta nas primeiras faixas
(e na capa). Ela é, em essência, um “Frankenstein” digital – um patchwork de partes díspares remontadas
dentro de algo estranho e novo. Os versos de Rod Serling foram remendados a
partir de uma variedade de diferentes episódios de Twilight Zone. Os efeitos sonoros – corvos, grasnados, sinos
dobrando, etc. – foram, também, retirados de uma máquina tecnológica temporal e
readaptados para a música. Nada na música é analógico – a bateria, teclado,
tudo é tecnologicamente produzido. A única coisa que é natural é a voz de Jackson
– embora, para o fim da música, ele a distorça tão bem quanto através e um tipo
de falha-efeito intencional, brilhantemente transmitindo a singularidade dele
com as máquinas que medeiam o que nós escutamos. Há uma variedade de
interpretações potenciais para isso, uma delas sendo (para parafrasear Marshal
McLuhan), que o médium é o monstro. Talvez, isso seja percebido como tal apenas
porque ele é “desconhecido” e, além do mais, assustador. Como Dennis Yeo Kah Sin
nota: “Esta manifestação transumana... questiona fundamentais suposições de nossa
humanidade e existência, quando o horror de um humano artificial... reemerge em
uma forma atualizada, com a possibilidade de novos tipos de vida simulada... O
terror do monstro gótico jaz, precisamente, na constituição indeterminada dele”.
A música termina com a
provocativa conclusão de Serling: “O que você acaba de testemunhar poderia ser
o fim de um terrível pesadelo particular. Não é; é o começo”.
Uma fascinante expressão
techno-gótica nas extremidades da Era da Informação, “Threatened” é uma
apropriada conclusão para o último álbum completamente lançado de Jackson.
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