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domingo, 28 de outubro de 2012

Earth Song: Inside Michael Jackson Magnum Opus (parte 3)

                 Eu Os Sinto Dentro de Mim

Enquanto performando ou ajudando crianças, Jackson se sentia forte e feliz, mas quando ele voltava para o quarto de hotel dele, uma combinação de ansiedade, tristeza e desespero, às vezes, agarravam-no. (6)
“Quando nos conhecemos, por volta de 1988” recorda o médico e autor Deepak Chopra, “eu fui atingido pela combinação de carisma e deslumbramento em torno de Michael. Ele seria cercado por multidões no aeroporto, apresentaria um show exaustivo por três horas e, então, sentar-se-ia nos bastidores, depois, como ele fez uma noite em Bucharest, bebendo uma garrafa de água, observando alguma poesia de Sufi, quando eu entrei na sala, e querendo meditar”. (7)
Jackson sempre foi sensível ao sofrimento e injustiça. Mas nos anos recentes, o sentimento de responsabilidade moral dele tinha crescido. O estereótipo da vaidade dele ignorava a natural curiosidade e a mente absorvente como uma esponja dele (um colaborador o descreveu como normalmente “bombeando as pessoas por informação”). Enquanto ele não era um sabichão político (Jackson, inquestionavelmente, preferia o reino da arte a políticas), ele, também, não era indiferente ao mundo em volta dele. Ele lia compulsivamente, assistia a filmes, conversava com especialistas e estudava assuntos pessoalmente. Ele estava investindo profundamente e tentando entender e mudar o mundo.
Em 1988, ele, certamente, tinha razão para se preocupar. As notícias pareciam capítulos de uma antiga escritura: havia ondas de calor e de secas, massivos incêndios florestais, terremotos, genocídio e fome. Violência aumentava na Terra Santa, enquanto as florestas eram varridas na Amazônia e lixo, óleo e esgoto arrebentam nas praias. No lugar de Personalidades do Ano do Times, a estória da capa final de 1988 foi dedicada à “Terra em perigo”. (8) De repente, ocorreu a muitos que estamos destruindo nosso próprio lar.
A maioria das pessoas lia ou assistia às notícias casualmente, passivamente. Eles se tornaram dormentes àquelas imagens e estórias horríveis projetadas na tela. Mas tais estórias, frequentemente, levavam Jackson às lágrimas. Ele as internalizavam e sentia dor física. Quando as pessoas diziam a ele para, simplesmente, desfrutar a própria boa sorte, ele ficava com raiva. (9) Ele acreditava fortemente na sentença de John Donne de que “nenhum homem é uma ilha”. Para Jackson, a ideia se estendia a toda a vida. Todo o planeta era conectado e intricadamente valioso.
“[Para a pessoa comum]”, ele explicou, “ela vê problemas ‘lá fora’ que têm que ser resolvidos”... mas eu não sinto dessa forma – esses problemas não estão ‘lá fora’ realmente. Eu os sinto dentro de mim. Uma criança chora na Etiópia, uma gaivota se debate pateticamente no óleo derramado... um soldado adolescente treme de terror, quando ele escuta os aviões sobrevoarem: Isso não está acontecendo dentro de mim, quando eu vejo e escuto sobre eles?” (10)
Uma vez, durante um ensaio de dança, ele teve que parar, porque uma imagem que ele tinha visto mais cedo, naquele dia, de um golfinho preso em uma rede o deixou tão emocionalmente perturbado. “Pelo jeito que o corpo dele estava emaranhado nas linhas”, ele explicou, “você poderia ler tanta agonia. Os olhos dele estavam vagos, mas inda havia aquele sorriso, aquele que os golfinhos nunca perdem... Assim, lá estava eu, no meio do ensaio, e eu pensei: ‘Eles estão matando uma dança’”. (11)
Quando Jackson performava, ele podia sentir essas emoções turbulentas surgindo através dele. Com a dança e o canto dele, ele tentava transfundir o sofrimento – dar a ele expressão, significado e força. Isso era libertador. Por um breve momento, ele podia levar a audiência dele (e ele mesmo) para um mundo de harmonia e êxtase. Mas inevitavelmente, ele era atirado de volta à crueldade do “mundo real”.

Notas do autor:
6.  “Quaisquer grandes artistas estão lutando com a loucura e a solidão deles, os medos deles, ansiedades e inseguranças”, observa Cornell West, “e eles estão transfigurando isso em formas complicadas de expressão que afetam nossos corações, mentes e almas e nos lembra de que nós somos, pois, seres humanos, a fragilidade da nossa condição humana e a inevitabilidade da morte... [Michael] foi capaz de se expressar de tal forma que ele nos permitiu ter um senso do que é esta vivo.” “Professor de Georgetown acessa o legado cultural de Michael Jackson.” The Tavis Smiley Show. PBS. 30 de junho de 2009.
7. Deepak Chopra. “Um Tributo ao Meu Amigo.” The Huffigton Post. 26 de junho de 2009.
8. “Nenhum indivíduo sequer, nenhum movimento capturou imaginações ou dominou manchetes mais que o aglomerado de rocha e solo e água e ar que é nosso lar comum.” “Planeta do Ano: O Que Estamos Fazendo na Terra. Time. 2 de janeiro de 1989.
9. Ironicamente, no mesmo ano que Michael Jackson escreveu “Earth Song”, “Don’t Worry, Be Happy” de Bobby McFerrin ganhou o Grammy de Gravação do Ano.
10. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992.
11. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992.


Esta é a Música Dela

Muita dessa dor e desespero circulava dentro de Jackson, quando ele estava no quarto de hotel dele, em Viena, meditando.
Então, de repente, ela veio. “Caiu no meu colo”, ele, mais tarde, se recordou do momento. (12) A música da Terra. Uma música a partir da perspectiva dela, a voz dela. Uma lamentação e súplica.
O refrão veio a ele primeiro – um choro sem palavras. Ele apanhou o gravador dele e apertou gravar. Aaaaaaaaah, Ooooooooh.
As acordes eram simples, mas poderosos: Lá- bermenol menor a Dó- sustenido tríade; Lá-bermenol menor sétimo para Dó- sustenido tríade, depois, a modulação sobe, Si- bermenol menor para Mi-bermenol tríade. É isso. Jackson pensou. Ele, daí, trabalhou na introdução e alguns dos versos. Ele imaginou o alcance dela na cabeça dele. (13)
“Earth Song”, ele determinou, seria a maior canção que ele já compôs.
                    
Notas do autor:
12. Como era de costume durante a Bad World Tour, Jackson foi “contrabandeado” para dentro do hotel dele, em Viena, pela porta dos fundos, junto com Bill Bray, o chefe de segurança dele de muito tempo e a comitiva de acompanhamento. O quarto de hotel dele se tornou uma espécie de cela de prisão – se bem que uma muito luxuosa. Tão grande era o desejo dele por privacidade, que até mesmo as faxineiras no Marriot Hotel se lembram dele “desaparecendo dentro de outro quarto”, quando elas vinham limpar. O único momento em que ele era visto publicamente, era quando ele acenava para os fãs da janela e jogava bilhetes e autógrafos.
13. A citação completa de Jackson sobre como “Earth Song” veio até ele: “Eu me lembro de estar escrevendo ‘Earth Song’, quando eu estava na Áustria, em um hotel e eu estava sentindo tanta dor e estava sofrendo tanto pelo estado do planeta Terra. Para mim isso é Canção da Terra, porque eu acho que a natureza está tentando tanto compensar pela má administração da Terra pelo homem. E com o desequilíbrio ecológico prosseguindo e com tantos problemas no meio ambiente, eu penso que a Terra sente dor e ela tem feridas e é sobre alguns dos prazeres do planeta também, mas esta é a minha chance de, basicamente, fazer as pessoas ouvirem a voz do planeta. E isso é ‘Earth Song’. E foi isso que inspirou a música. E ela, apenas, de repente, caiu no meu colo, quando eu estava em turnê na Austrália.”




Agora é o Momento da Eternidade

Aproximadamente, quase um ano depois, quando Jackson retornou da turnê, “Earth Song” (que era, então, referida apenas como “Earth”) foi uma das primeiras músicas que ele trouxe para trabalhar.
Era verão de 1989, ele tinha recentemente adquirido o Rancho Neverland no Vale Santa Ynez e sentia um renovado senso de propósito e visão para o trabalho dele. “Michael estava inspirado por fazer uma turnê e ver o mundo", disse o engenheiro de gravação Matt Forger. “Ele voltou com certas impressões. O comentário social dele chutou um ou dois degraus para cima. A maioria das primeiras músicas nas quais trabalhamos – “Black or White”, “They Don’t Care About Us”, “Heal the World” e “Earth Song” – eram mais socialmente conscientes. A consciência dele sobre o planeta estava muito mais à frente.” (14)
A espiritual visão mundial de Jackson tinha, também, transformado. Criado como uma Testemunha de Jeová, ele foi ensinado a acreditar em um Deus que era rígido e exigente (incluindo o mandamento de nunca celebrar feriados e aniversários). O principal propósito da vida era preparar a si mesmo, e aos outros, para o Armagedon, o que, as Testemunhas acreditavam, era iminente e inútil tentar adiar ou evitar. O objetivo, aliás, era se tornar um honesto membro da elite (os 144.000) que sobreviveria e reinaria sobre a terra e ela seria livrada da fraqueza. (Se alguém não fizesse a classe superior, eles poderiam ser parte de uma segunda classe de Testemunhas que seriam permitidas viverem no paraíso).
Durante muito tempo na vida dele, Jackson tentou acreditar nessa doutrina. Ele se debruçava sobre a Bíblia e sentia-se ansioso sobre a eterna salvação dele. Ele frequentemente fazia perguntas aos anciãos da igreja sobre as doutrinas que ele considerava confusa e injusta. Mas em 1987, ele tinha aprendido e experimentado o bastante para decidir abdicar, oficialmente, da fé. Em um poema Jackson escreveu: “Mas eu escolhi quebrar e ser livre/Cortar aqueles nós, assim eu pude ver/ Aqueles laços que me aprisionavam em memórias de dor/ Aqueles julgamentos, interpretações que confundem meu cérebro.” (15)
No lugar disso, ele desenvolveu muito mais inclusivo e libertador entendimento de si mesmo, o mundo e o divino (informado, em parte, pela exposição dele às ideias Orientais e Transcendentalistas). “É estranho que Deus não tenha pensado em expressar-se, Ele/Ela, em todas as religiões do mundo, enquanto as pessoas continuam se agarrando à noção de que a forma delas é a única forma correta”, ele escreveu no livro dele, de 1992, Dancing the Dream. Em outra obra, no lugar da anterior concepção dele sobre a pós-vida, ele escreve: “O Céu é aqui/ Agora mesmo é o momento da eternidade/ Não se engane/ Reclame sua alegria.” (16)
Esse novo entendimento teve um impacto profundo na criatividade dele, incluindo “Earth Song”. Se Deus não era um pai exigente, mas uma presença e energia inspiradora como música e natureza – se a destruição global e o Armagedon eram inevitáveis, como ele foi ensinado, mas algo para tentar previamente curar – isso tinha cruciais implicações para o propósito da arte dele. Além de arrecadar dinheiro para a caridade, ele percebeu, ele poderia usar o trabalho criativo dele para protestar contra injustiça, desafiar prevalecentes aparatos do poder, para mudar a consciência das pessoas – e, assim, mudar o mundo desde as raízes.
Jackson ainda valorizava partes da educação religiosa dele – na verdade, muito de “Earth Song” está enraizado no fervoroso Jeremias da Bíblia – mas agora estava livre de um credo em particular e fundido com objetivos mais humanísticos. Ele não estava contente em simplesmente esperar por que Deus concertasse o mundo ou o aplacasse com promessas de paraíso. “Isso começa conosco”, Jackson insistiu. “Somos nós! Ou nunca será feito.”

Notas do autor:
14. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 5 de maio de 2011.
15. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992.
16. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992.
 

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