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domingo, 28 de outubro de 2012

Capítulo 6 - Blood on the Dance Floor: "Is It Scary"

5. IS IT SCARY
 
(Escrita e composta por Michael Jackson. Jimmy Jam e Terry Lewis. Produzida por Michael Jackson, Jimmy Jam e Terry Lewis. Programação de teclado: Andrew Scheps. Programação de bateria: Jeff Taylor. Programação adicional: Rob Hoffman. Arranjo vocálico: Michael Jackson. Arranjada por Michael Jackson, Jimmy Jam e Terry Lewis. Gravada por Steve Hodge. Vocais solo e backgrounds: Michael Jackson. Todos os instrumentos tocados: Jimmy Jam e Terry Lewis)
 
“Is It Scary” é o clímax das incursões de Jackson dentro do Gótico. Ela é também, talvez, a melhor resposta dele à percepção que o público tem dele como uma combinação de espetáculo, vilão, e aberração. Se “Childhood” é, como Jackson uma vez afirmou, a música mais pessoal dele, “Is It Scary” é o necessário contraponto. Assustadora, evocativa e reveladora, ela é um final apropriado para a sombria obra prima conceitual de cinco músicas que éBlood on the Dance Floor.
 
Jackson coescreveu uma faixa anterior com Jimmy Jam e Terry Lawis no início dos anos noventa. Jackson, porém, não ficou satisfeito com o corte e continuou a moldá-la e a deixar que “ela falasse com ele” nos anos seguintes. Comparar o inicial Dawntempo Groove Mix com a edição do álbum fornece um vislumbre esclarecedor dentro do processo de desenvolvimento de uma música por Jackson, até ela ficar exatamente correta. A versão final não apenas acrescenta uma das mais importantes letras da música, mas dá a ela a necessária atmosfera, drama e paixão, que permitem que a “verdadeira dor e emoção” das letras ressoem.
 
A música começa com uma descrição quase idêntica a de “Ghosts”, imagens de aparições em volta, e fantasmas, escadas rangendo, e paredes confinantes; sonoramente, uma porta bate, o ar é comprimido e um coração começa a bater rapidamente, invocando um senso de claustrofobia, medo e pânico. Isso é uma simbólica descida para dentro de uma câmera-prisão. É aqui, significativamente, que Michael Jackson segura um espelho para a plateia dele.
 
“Eu serei/Exatamente o que você quer ver”, ele canta. Nesse espaço fechado, em outras palavras, ele está preparado para performar, para entreter. O que se quer ver nele ou através dele, no entanto, revelará mais sobre o observador que sobre o sujeito. “É você que está me provocando”, ele continua, diretamente se referindo aos críticos dele, “Porque você quer que eu/Seja o estranho na noite.” O provocar, aqui, serve para marginalizar, transformar as diferenças dele em algo bizarro e irreconhecível. Ele se tornou uma espécie de trovador dos dias modernos; a audiência arqueja, bate palma, zomba e ri, mas fundamentalmente compreende mal a natureza do artista e performance. A crítica cultural Judith Coyle argumenta que Jackson “assimilou a personalidade de uma gama de trovadores, incluindo Long Tail Blue,Dandy Blue Jim, Zip Coo, Master Juba e, até mesmo, Jim Crow, em diferentes pontos da carreira e vida dele”.
 
O trovador, é claro, deve entreter de acordo com as expectativas, não em seus próprios termos. A recusa de Jackson em fazer isso subverteu o papel consignado dele. “Esta história do entretenimento americano (e o lugar do próprio Jackson nessa história) nunca está distante da mente de Jackson”, observa o crítico cultural David Yuan. “Ele tem deixado claro que ele acredita que a música afro-americana não deveria ser relegada ao status de ‘espetáculo secundário’ na história cultural americana... é importante reconhecer como a história contada tantas vezes sobre a subida de Michael Jackson ao estrelato se assemelha à institucional história do entretenimento afro-americano – e a história institucional dos shows de aberrações.”
 
A inabilidade ou relutância dele em satisfazer as expectativas da sociedade, tornar-se “normal”, depois, simultaneamente, mais irado, confunde e fascina as pessoas. “Michael Jackson”, Yuan continua, “é, definitivamente, a celebridade aberração dos nossos tempos... [E] para um público perplexo,... ele é visto como o agente que ‘transforma a si mesmo em uma aberração’”. Em outras palavras, a “escolha” dele em ser uma aberração agrava a reação cada vez mais.
 
Um perceptivo Jackson nota esse dilema e confronta os ouvintes com uma série de questões: “Eu estou divertindo você/Ou apenas confundindo você/Eu sou a besta que você visualizou.” Ele está, essencialmente, perguntando se ele é percebido como menos que humano. No On Michael Jackson, de Margo Jefferson, ela escreve do contexto histórico para tal consulta. “Quando a Guerra Civil começou, [P.T.] Barnum tinha acabado de colocar um artista de circo inglês em maquiagem negra e túnica peluda, dado a ele uma selva como plano de fundo e perguntava ao público: ‘O que é isto? ’ Em 1875, ele colocou um afro-americano na peça: ‘... Isto é uma Classe Inferior de HOMEM? Ou é uma classe superior de MACACO? Ninguém pode dizer! Talvez seja a combinação de ambos. Isso é mais que discutir A MAIS INCRIVEL CRIATURA DA NATUREZA... ’”,“Michael Jackson”, continua Jefferson, “contem oligoelementos de toda essa história... A raça dele, sexo, sexualidade, idade, são todos, absolutamente, ambíguos, difícil de classificar. Assim, ele se tornou, para muitos, um ‘O que é isto? ’”.
 
Esse contexto permite versos como “E se você quer ver/ Excêntricas esquisitices/ Eu serei grotesco diante dos seus olhos”, bater em um nível profundo. Ele será grotesco porque isso é o que uma cultura preconceituosa vê e quer vê. Isso é o que eles fizeram dele. Ele é um produto da cultura americana em muitos sentidos da palavra. Se eu estou assustando você, ele está dizendo, eu deveria estar; eu quero estar.
 
Mais tarde, entretanto, ele nos lembra de que atrás das “máscaras” esconde-se uma “alma ferida”. “Se você veio para ver”, ele canta, “A verdade, a pureza/ Aqui dentro está/ Um coração solitário.” O paradoxo, porém, é que ele apenas pode se revelar performando, perpetuando a ambígua linha entre artista e humano, pessoa e personalidade. Conformado com o complicado destino dele, Jackson declara o que poderia ser o slogan da vida dele: “Então, deixe a performance começar!”
 
O clímax apresenta Jackson, poderosamente, canalizando a raiva dele sobre um coro de fantasmas, derramando a dor dele no que parece um exorcismo. Isso é a que Neil Strauss, do New York Times, estava se referindo quando ele falou de Jackson, “como o homem elefante, gritando que ele é um ser humano”. Isso conclui um das mais dolorosas, mas poderosa, expressões artísticas da carreira de Jackson.
 

Jackson posa com fantasmas e zumbis nesta foto do set de Ghosts. Blood on the dance Floor foi o mais próximo que Jackson chegou para um álbum conceito







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