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GHOSTS
(Escrita e composta por Michael Jackson e
Teddy Riley. Produzida por Michael Jackson e Teddy Riley. Engenharia por Teddy
Riley e Eddie DeLena. Mixagem por Dave Way. Arranjo vocálico: Michael Jackson.
Bateria: Matt Carpenter e Alex Breuer. Vocais solo e backgrounds: Michael Jackson.
Teclados e sintetizadores: Teddy Riley, Brad Buxer e Doug Grigsby)
Jackson joga em já outra direção com “Ghosts”, a
primeira das duas novas músicas em Blood
on the Dance Floor a descer para os corredores sombrios do Gótico. É uma
extraordinária atualização para uma das mais persistentes fascinações de
Jackson (remontando a “Heartbreak Hotel” e, é claro, “Thriller”) – uma
exploração do que Edgar Allan Poe uma vez chamou de “terrores da alma”. Na
verdade, o interesse bem conhecido de Jackson por assuntos como medo, horror,
paranoia, transformação, o sobrenatural e o grotesco, tem levado os críticos a
chamá-lo de o “primeiro megastar
Gótico do mundo”.
Parte da genialidade de
Jackson era a habilidade dele de não apenas compreender a história da tradição
Gótica (da qual ele era um ávido estudante), mas também torná-la apropriada
para novas e interessantes formas. Com músicas e vídeo musicais como Thriller e Ghosts, ele, essencialmente, inventou um novo gênero de música
popular – o que pode ser chamado de Gótico
pop. Essa estética subversiva – utilizada, agora, mais proeminente por Lady
Gaga – permitia a Jackson desafiar a sociedade que o rotulou de monstro e
aberração. Um anfitrião de estudos acadêmicos tem explorado formas como a vida e
a obra dele “incorporaram o Gótico”. Do enigmático “castelo” Neverland dele à identidade amorfa e à
insistente paranoia e horror cadavérico na música dele, ele se tornou o mais
proeminente herói-vilão Gótico de uma geração.
Nessa estética
transgressiva, “Ghosts” é um dos melhores trabalhos dele. Com uma áspera linha
de baixo que retine, e refrão pungente, ele narra a ameaça em volta:
Há um fantasma lá embaixo no hall
Há um vampiro em acima da cama
Há algo nas paredes
Há sangue no andar de cima
E está flutuando pela sala
E não há nada que possa ver
E eu sei que esta é a verdade
Porque, agora, está sobre mim.
Os vampiros e fantasmas
são, é claro, amplamente psicológicos (“não há nada que eu possa ver”). Mas o
terror visceral e a paranoia que ele transmite são reais. Os fantasmas
funcionam como metáfora para todas as intrusões do mundo real que o assombram,
inclusive aqueles emanados de dentro. “Quem deu a você o direito de sacudir
minha árvore genealógica?” Ele exige, indignado. “E quem deu a você o direito
de assustar minha namorada, ela precisa de mim?” Nesses versos Jackson se sente
cercado e atacado por inimigos invisíveis (“Há um odor fantasmagórico em volta/
Mas nenhuma cadáver para ser encontrado”). Ele pergunta, repetidamente, se os
fantasmas e vampiros são invejosos, esperando, pelo menos, descobrir o motivo
deles, mas não há resposta, nenhuma “paz de espírito”. A música termina na
incerteza.
“Ghosts” se tornou a
música tema para o filme Michael
Jackson’s Ghosts, de 1997, um vídeo musical de trinta e nove minutos
estendido na tradição de Thriller. (Ghosts também apresentou as músicas
“2Bad” e “Is It Scary”). Diferentemente de Thriller,
no entanto, cujo lançamento foi um evento cultural nos Estados Unidos, Ghosts foi exibido apenas em um punhado
de cinemas na América e nunca foi lançado em vídeo (embora, internacionalmente,
tenha se saído muito bem, na première
do prestigiado Cannes Film Festival,
na França, e, mais tarde, lançado na Europa como box set).
Em retrospecto, esse
destino parece, ironicamente, apropriado para um filme sombrio, mordaz, sobre a
principal tendência da América em marginalizar e temer o que é diferente. O script para Ghosts, que surgiu de uma variedade de inspirações, incluindo Poe,
Bram Stocker, Frankenstein e Fantasma da Ópera, foi coescirto por Jackson e o
novelista de horror, Stephen King. Jackson disse a King que ele queria criar
algo “aterrorizante”, algo que iria “chocar o mundo”. A inverossímil
colaboração aconteceu, principalmente, pelo telefone. “A história nuclear que
ele descreveu para mim aquele dia”, recorda King, “era sobre uma multidão da
cidade, irada, focada em pessoas de classe média, não camponeses carregando
tochas – que queriam que aquele “esquisito”, que vivia em um castelo nas
proximidades, deixasse a cidade. Porque, eles dizem, ele é uma influência ruim
para os filhos deles. Eu associei isso com o ponto de vista dos pais quanto ao rock and roll, quando eu estava
crescendo”.
O trabalho no filme
começou em 1993. “Ninguém sabia disso, mas era para ser, originalmente, um vídeo
para promover A Família Adams”, disse o, então, diretor, Mick Garris. “Eu
trabalhei com ele durante toda a pré-produção e duas semanas da produção. Ficou
desligado por três anos, antes de ser retomado por Stan Winston, que estava
fazendo os efeitos especiais, quando eu estava dirigindo. Eu recomendei a ele
que terminasse a filmagem, quando foi retomada, pois eu estava prestes a gravar
The Shinning.”
Stan Winston, que
tinha, anteriormente, trabalhado em filmes tão inovadores quanto com O Exterminador;
Edward, Mãos de Tesoura e Jurassic Park,
acabou sendo a escolha natural para o projeto. Além de trabalhar com Jackson,
anteriormente, em The Wiz, o forte
dele era efeitos especiais e maquiagem, talentos que foram usados para efeito
total em Ghosts. Enquanto eles
trabalhavam juntos, Winston ficou completamente impressionado pela ainda dinâmica
imaginação e habilidade de Jackson. “Começou sendo 12 a 15 minutos de duração”,
ele recorda do projeto, “mas enquanto estávamos gravando, foi crescendo em
força e dimensão”.
O produto final,
entretanto, contém resultados mistos. De um lado, é uma impressionante fusão de
música, dança e efeitos visuais. A transformação de Jackson no conservador
prefeito de meia idade, e acima do peso, é bem executada e divertida e a encarnação
(e dança) dele como um esqueleto apresenta efeitos CGI de ponta. Algumas das sequências de dança, particularmente em
“2Bad”, são brilhantes. Stephen King chamou isso de “uma das melhores e mais inspiradas
danças da carreira de Jackson”.
Enquanto o conceito
global é forte, porém, isso não desenvolveu totalmente, sacrificando o que
poderia ter sido interessantes nuances, emoções e detalhes, por um enredo
previsível e estagnado. Além disso, a atuação é um pouco tola, (particularmente
pelos pais e crianças) e o final um pouco desajeitado. Apesar dessas fraquezas,
contudo, Ghosts é uma clássica
expressão subcultural Gótica, oferecendo – como o filme Black or White fez – um surpreendente autoconhecimento e
desafiadora acusação das rigidezes e hipocrisias da América de classe média.
O filme começa em preto
e branco. Enquanto Thriller foi parte
homenagem e parte paródia dos exagerados filmes de horror dos anos 70, Ghosts foi inspirado pelos files mais tradicionalmente
Góticos da Universal, dos anos 30 e 40, como O Médico e o Monstro,
Frankenstein, Drácula e Freaks. Como
esses filmes, Ghosts trata,
principalmente, com temas de identidade, particularmente em como a sociedade
responde àqueles que consideram aberrações.
Em Ghosts, essa aberração vem na forma de um estranho e recluso
“Maestro”, que vive em um castelo nas proximidades da cidade, que é percebido
com uma influência ruim para a comunidade. Em um esforço de se livrar dessa
influência, o obsessivo prefeito de “Vale Normal” – inspirado, sem dívida, em
parte, pelo Promotor Distrital de Santa Barbara, Tom Sneddon – lidera um grupo
de medrosos cidadãos para exigir que o Maestro parta, imediatamente. “Nós
queremos que você deixe a cidade”, ele diz. “Nós temos uma agradável cidade
normal. Pessoas normais. Crianças normais. Não precisamos de aberrações como
você contando a elas histórias sobre fantasmas.”
Para o prefeito (e
alguns na comunidade), o Maestro representa uma ameaça ao status quo. Ele não parece igual, não veste igual ou age igual às
pessoas “normais”. Ele, também, parece possuir alguma forma de magia negra e
conta “histórias fantasmagóricas” Para reprimir a influência dele, o prefeito o
rotula e o marginaliza. “Garoto anormal! Aberração! Aberração de circo”, ele provoca
em um ponto, enquanto os moradores da cidade apenas olham, passivamente. As
palavras aberração e esquisito foram, repetidamente, usadas
como insultos para “discriminar” o personagem de Jackson, para humilhá-lo e
desumanizá-lo. Interessantemente, em vez de tentar assimilar as expectativas da
cidade, provar a normalidade dele, o personagem de Jackson, abertamente, as
desafia. Ele “se torna grotesco diante dos olhos [deles]”, contorcendo a face
dele e demonstrando poder demoníaco. “Eu assustei você?” Ele repetidamente
pergunta ao prefeito e às pessoas da cidade.
As crianças no filme,
que são muito mais rápidas em olhar além da superfície e rótulos, representam
os, relativamente, não socializados. Enquanto os adultos são propensos em julgar
e temer o que é diferente e novo, as crianças são mais abertas e dispostas a
dar o benefício da dúvida.
O remanescente do filme
é, essencialmente, um duelo entre o Maestro e o Prefeito. “O aspecto mais
interessante do filme”, escreveu o crítico cultural Chad Helder, “é o ambíguo
relacionamento entre o excêntrico Maestro, estilo Vincent Price, e o
conservador e preconceituoso Prefeito. Essa duplicação é enfatizada por Jackson
interpretando ambos os personagens... Em um ponto, o Maestro toma o corpo do
Prefeito e o Prefeito, completo com próteses rechonchudas, dança para todos,
seguido por uma cena essencial, onde uma mão com um espelho sai da barriga do
Prefeito e mostra ao Prefeito a própria monstruosidade dele. Essa duplicidade
de personagens, enfatizada por Jackson interpretar os dois lados, reforça a
complexidade do filme. Nenhum dos lados pode ser tão preto/branco quanto à
mentalidade do filme de horror tradicional”. O filme, mais uma vez, demonstra a
substancial habilidade de Jackson como um conceitualista em todas as formas. Em
Ghots, ele não apenas atuou em múltiplas
partes e cantou, ele também coescreveu o roteiro, compôs a música e ajudou a coreografar
as danças e dirigir. Ghosts não é
perfeito, mas a inteligência dele, humor, cinematografia e dança, faz dele uma fascinante
sequência de Thriller.
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