10.
CHILDHOOD
(Escrita
e composta por Michael Jackson. Produzida por Michael Jackson e David Foster.
Vocais: Michael Jackson. Coro de Crianças de Nova Iorque: Tracy Sindler,
Natalia Harris, Jonathan Ungar, Brandi Stewart, Reeve Carney, Caryn Jones e
Brian Jones. Orquestração: Jeremy Lubbock. Piano: Brad Buxer, David Foster.
Cordas: Brad Buxer)
“Childhood” significava muito para Michael Jackson.
De todas as músicas que ele compôs, ele a considerava a mais pessoal. “Se você
realmente quiser saber sobre mim”, ele diria em uma entrevista em 2004, “há uma
música que eu escrevi que é a música mais honesta que eu já escrevi... ela se
chama ‘Childhood’. [As pessoas] deveriam ouvi-la [se elas querem me entender]. Essa
é uma que eles deveriam realmente ouvir”. Na verdade, enquanto há muitas
camadas do enigma que é Michael Jackson, o trauma da infância “perdida” dele
está onde tudo começa. O resto da vida dele, de certa forma, foi uma incessante
tentativa de redescoberta.
O público, e até mesmo
muitos dos amigos dele, conselheiros e parceiros, infinitamente escrutinizaram
essa redescoberta pessoal. As pessoas foram rápidas em zombar, ridicularizar ou
oferecer conselhos. Mas muitos poucos puderam imaginar como a vida dele
verdadeiramente foi: a solidão; abuso; exploração e constantes expectativas nos
primeiros anos; trabalhando o dia todo no estúdio, enquanto outras crianças
brincavam no parque do outro lado da rua; não ser capaz de deixar a casa sem
ser atacado, desde quando ele tinha dez anos de idade; escondendo-se em um
armário escuro em razão da vergonha e medo de que os fãs o vissem com acne e o
rejeitassem; a presença ameaçadora de um pai abusivo, que poderia gritar ou
bater nele por qualquer imperfeição percebida. “Nossa história pessoal começa
na infância”, diz Jackson em entrevista, “e a música ‘Childhood’ é um reflexão da
minha vida... É sobre dor, algumas das alegrias, alguns dos sonhos, algumas das
aventuras mentais que eu tive, em razão da vida diferente que eu tive, no
começo, como um artista infantil. Eu nasci no palco e ‘Childhood’ é meu espelho
– é minha história”.
Na verdade, esse é o
sentimento que Jackson tenta mostrar em “Childhood”, uma confissão estilo Broadway, com o acompanhamento de uma
orquestra completa. Ele entende que ele não é “normal” para o mundo. As pessoas
dizem que ele “não está bem”. “Eles veem isso como estranhas excentricidades.”
Mas eles viram a infância dele? A pergunta se repete durante toda a música e
funciona em diferentes maneiras. Por outro lado, ela está pedindo para os
ouvintes que considere os desafios da vida precoce dele. Mas isso também é
apresentado como uma irrecuperável abstração; a “infância” ideal dele não
existe. “Eu estou procurando pelo mundo de onde vim”, ele canta, mas a trágica
ironia é que isso sempre lhe escapa. Como em “Stranger in Moscow”, ele não tem
lar, entre mundos, um alienígena. Infância, como Neverland, é uma realidade construída, uma fantasia. Por causa
disso, ele percebe, “tem sido meu destino compensar/ Pela infância que nunca
conheci”. Porque ele foi forçado a ser um adulto quando era criança, em outras
palavras, ele queria, pelo menos, acessar alguma alegria, maravilha, e mágica
da infância, quando adulto. Entretanto, ele nunca poderia, realmente, ser uma
criança de novo – uma realidade que se tornou tão cruel e real, quando
alegações foram feitas contra ele. É essa assustadora presença que
perpetuamente aparece nas extremidades de muitas das músicas dele, incluindo a
sequência de “Childhood”, “The Lost Children”. Ele pode compensar, ou escapar,
dentro de um mundo de “sonhos de aventuras” por um tempo, mas logo a realidade
iria se intrometer. Ele acorda no mundo adulto.
Reconhecendo essa
verdade sombria, ele simplesmente pede aos ouvintes dele: “Antes de você me
julgar/Tente muito me amar/ A dolorosa juventude que eu tive...” A emoção
nessas linhas finais é palpável. Claro, isso pode ser (e tem sido) descrito por
cínicos como sentimental e indulgente. Mas há genuína emoção nos vocais e
tragédia nos sonhos simples desta música. Como muitos dos trabalhos do
Wordworth ou Barrie, ela é tanto uma ode quanto uma elegia à inocência.
Enquanto isso pode facilmente ser descrito como sentimental, “Childhood” é,
também, uma reveladora confissão, uma desesperada súplica por compaixão, uma
música, finalmente, sobre a vulnerabilidade e a tragédia de ser humano.
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