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domingo, 28 de outubro de 2012

Capítulo 4 - Dangerous


“Esta alienação, fragmentação, abominação/ De separação, exploração, isolação/ Esta crueldade, histeria, absoluta loucura/Esta raiva, ansiedade, transbordante tristeza... Êxtase, Êxtase/ Por que não podemos todos sempre viver em êxtase.”

MICHAL JACKSON, DANCING THE DRAME, 1992




LANÇADO: 26 de novembro de 1991
PRODUTOR EXECUTIVO: Michael Jackson
CONTRIBUIDORES CHAVES: Teddy Riley (produzindo/compondo), Bill Bottrell (produzindo/compondo), Bruce Swedien (engenharia/mixagem/composição), Matt Forger (gravando/mixando/direção técnica), Brad Sundberg (diretor técnico), Glen Ballard (compondo), Siedah Garret (compondo), Buz Kohan (compondo), Slash (guitarra), Heavy D (rap), Johnny Mendel (orquestra)
SINGLES: “Black or White”, “Remeber the Time”, “In the Close It”, “Jam”, Who Is It”, “Heal the World”, “Give Into Me”, “Will You Be There, “Dangerous”
ETIMATIVA DE CÓPIAS VENDIDAS: 40 milhões





 
 


CAPÍTULO 4 DANGEROUS

 





Dangerous era um novo tipo de álbum para Michael Jackson. Depois de uma extraordinária atuação com Quincy Jones, que resultou em três dos mais bem sucedidos e influentes álbuns na história da música moderna, Jackson se recusou a simplesmente descansar nos louros dele ou repetir fórmulas comprovadas. Ele estava pronto para um novo desafio, um novo som, uma nova visão.
Agindo pela primeira vez como produtor executivo, Jackson corajosamente, buscou talento fresco, incluindo o mastermind do new-jack-swing, Tedd Riley. No entanto, isso não foi simplesmente um álbum “new jack”, como ele tem sido muitas vezes caracterizado. Dangerous sampleou a Nona Sinfonia de Beethoven; ele apresenta talentos tão diversos como o Coro Andraé Crouch Singer, Slash e Heavy D; ele explora questões raciais, identidade, alienação e Deus. Foi uma coleção eclética, maximalista, tão audaciosa quanto nenhuma música pop tinha sido antes. Tendo já alcançado o ápice do sucesso comercial, Jackson queria criar algo para todas as idades – algo que não iria apenas entreter, mas também fornecer provocação e inspiração.
Aos setenta e sete minutos, Dangerous cumpriu a visão sublime de Jackson. Pela transformação, coragem, assombro e transcendência, ele não apenas tornou-se o álbum mais socialmente consciente do cantor, à data, mas também o mais pessoalmente revelador dele. A primeira capa do álbum – uma intrigante máscara estilo circense, de onde penetrantes olhos olham para o mundo – significa uma nova autoconsciência e profundidade. Uma estonteante odisseia musical, Dangerous é o Songs in the Key of Life de Michael Jackson: o trabalho de um artista engajado com o mundo em volta dele – e dentro dele – como nunca antes.
Muito tinha mudado no mundo desde o lançamento de Bad em 1987. Politicamente, era um tempo de volatização e transição. Em 1988, George Bush derrotou o candidato Democrata, Michael Dukakis, de forma esmagadora, para se tornar o quadragésimo primeiro presidente dos Estados Unidos. A campanha, porém, trouxe o espectro do racismo para a superfície com o infame Wille Horton anunciando reforçados estereótipos e medos de homens negros. Poucos anos depois, em 1991, a tensão racial ferveu novamente, seguindo ao brutal espancamento de Rodney King e os motins em Los Angeles. Em Dangerous, em resposta a esse clima, Jackson iria, explicitamente, confrontar racismo, pela primeira vez, na carreira dele.
Da mesma forma, a epidemia de AIDS assomava maior que nunca, com a morte de figura de grande visibilidade, como Ryan White, de quem Jackson tinha se tornado amigo, em 1989, e o líder do Queen, Freddie Mercury, com quem Jackson tinha colaborado no início dos anos oitenta. Em novembro de 1991, o jogador de basquete, Magic Johnson, chocou o mundo quando ele anunciou em uma conferência de imprensa que ele também tinha contraído o vírus HIV e iria abandonar o basquete imediatamente. No ano seguinte, ele estava no vídeo de Michael Jackson para “Remeber the Time”.
No exterior, o mundo viu tanto sinais de esperança quanto de destruição. Em 1989, jubilosas imagens do Muro de Berlim sendo derrubado por marretas foram temperadas com a imagem de um jovem homem parado na frente de um tanque na Tinanmen Square. Do mesmo modo, em 1990, a longamente aguardada libertação do ícone do antiapartheid sul-africano, Nelson Mandela, foi contrastada com a invasão do Kuwait por Saddam Hussein e a subsequente Guerra do Golfo Pérsico.
 
Para muitos, no entanto, esses foram eventos distantes, que se desenrolaram como filmes na TV. Perto de casa, famílias lidavam com negligência, divórcio e disfunção (como representado em programas populares como Married with Children e The Simpsons). Na escola e nas ruas, o espírito da época estava mudando do otimismo e materialismo, nos anos oitenta, para inquieta ansiedade e alienação que veio definir a Geração X. Esses eram filhos das explosões de bebês: eles tinham crescido com a propaganda da Guerra Fria, Reagan, MTV e videogames. No final da década, eles estavam começando a reavaliar o “mundo material” no qual eles tinham sido criados.
 
É claro, durante os anos oitenta, essa corrente alternativa estava presente, como representado pelos revolucionários grupos de hip-hop, como Run DMC e Public Enemy, e atos alternativos como R.E.M. e os Pixies. Porém, no fim de 1992 – o ano no qual Dangerous de Michael Jackson foi lançado –, rap grunge e gangsta estavam começando a tomar o país de assalto. Era janeiro de 1992 quando o álbum seminal do Nirvana, Nevermind, substituiu o álbum Dangerous de Jackson no topo dos charts. Muitos viram isso como um momento simbólico, que oficialmente encerrou o reino do pop e inaugurou a era grunge com bandas como Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Smashing Pumpkins tomaram todas as ondas de rádio e a MTV.
Em nossa tendência em simplificar a história, no entanto, nós sempre esquecemos que em música e cultura há sempre múltiplas correntes. Antes de Dangerous de Jackson ser substituído por Nevermind do Nirvana nos charts da Billboard, ele tinha, do mesmo modo, derrubado o Achtung Baby do U2, o qual tinha, anteriormente, derrubado o multiplatinum em vendas, Use Your Illusion I and II, do Guns and Roses. O álbum mais vendido de 1992, interessantemente, foi a trilha sonora de O guarda-costas, apresentando seis músicas de Whitney Houston.


Jackson, fotografado aqui no vídeo In the Closet, reinventou-se, novamente, para
ser a nova década.
 

Grunge, certamente, fez sua presença ser sentina no início dos anos noventa, mas esta também foi uma era que viu a popularidade de tudo vindo do pop country de Garth Brooks e o pop-rap de MC Hammer e Vanilla Ice. Artistas perenes como Madonna, Prince e Janet Jackson competiam nos charts com os novatos Paula Abdul, Mariah Carey e Sinead O’Connor. No rock, o estilo diverso do Guns N’ Roses, U2, e R.E.M. ainda desfrutava de massivo sucesso, mesmo quando a onda de Seatle começou a crescer. Enquanto Nevermind era o CD da escolha para adolescentes cheios de angústia, nos bairros de classe média (e entre críticos brancos, predominantemente), as ruas estavam fragmentando em diferentes direções. Atos mais cerebrais, como Living Color e Arrasted Development, forneciam um contraponto para o crescente movimento de rap gangasta, que atenuava expressões sobre sexo, drogas, e violência de gangues, inspiraram uma década de duração de hip-hop (o que realmente explodiu no fim de 1992 com o lançamento de The Chronic, do Dr. Dre).  


O fim dos anos oitenta /início dos anos noventa também viram o crescimento de outros movimentos inspirado nas ruas: new-jack-swing. O idealizador do hip artista produtor, como Ted Riley, L. A. Reid e Babyface, a música new jack “zincou a música pop” no fim dos anos oitenta. New jack foi “uma firme, variação flexionada de jazz no hip-hop” que também incorporou elementos do funk, R&B e soul. “Clássicos rap atacavam suas vísceras com o máximo baixo desleixado deles”, escreveu o crítico Robert Doerschuck em 1992. “Sob circunstâncias similares, new jack swing vai para seus pés e seu cérebro. Isso é tão ordenado quanto é firme.”
Na verdade, usando “um híbrido de ritmos e a magia de baterias mecânicas” isso era um prospectivo som que se tornou a fundação do muito contemporâneo R&B. Também pagou homenagem às raízes dele, carregando ecos do soul da Motown, o funk de James Brown, e a maestria em estúdio de Stevie Wonder. O jornalista e cineasta Barry Michael Cooper cunhou o termo new jack swing em uma apresentação com Teddy Riley para The Village Voice em 1988. Isso logo pegou. “Três palavras em uma capsula”, escreveu Doerschuk, em 1992, “desenhada para deslizar suavemente pela garganta da mídia – estalo, crepitação, pop para os anos 90. Ele é o gancho para a estação, o qualquer que seja, que todo mundo quer nas faixas rítmicas deles”.
 
“... desenhada para deslizar suavemente pela garganta da mídia – estalo, crepitação, pop para os anos 90.”
 
O primeiro padrinho do new jack foi Teddy Riley, um jovem prodígio musical advindo dos projetos do Harlem, que começou a produzir e cantar profissionalmente antes que ele pudesse dirigir um carro. Em 1987 (o mesmo ano que Bad foi lançado), ele chegou na cena nacional, produzindo Make It Last Forever, de Keith Sweat, e um anos depois, o álbum multiplatinum do Guy, de mesmo nome. O maior rompimento dele, no entanto, veio com o hit vencedor do Grammy Award, de 1989, “My Pregorrative”, por Bobby Borwn, do New Edition. A música apresentou a possibilidade de combinar as sensibilidades hip-hop da rua com a suavidade do R&B. Na verdade, sonoramente, não estava distante do que Jackson estava fazendo com a música “Bad”.
 
Riley, destarte, era um dos mais quentes produtores R&B na indústria, quando a década passou pela transição. Quando ele conheceu Michael Jackson, em 1991, ele tinha apenas vinte e cinco anos. Era um grande risco para o muito mais estabelecido Jackson, que tinha, quase em uma só tacada, definido o som da dance music dos anos oitenta. Porém, Jackson queria algo “novo” e “fresco” para Dangerous e ele gostava do que ele escutava nos ritmos, batidas e texturas do new jack swing.
Jackson tinha mal retornado do recorde estabelecido de dezesseis meses, cento e vinte três concertos, da Bad Wolrd Tour, no início de 1989, antes que ele estivesse de volta ao estúdio, trabalhando em novo material. A grande mudança era que ele não estava mais trabalhando com Quincy Jones. Antes de Off The Wall, o par tinha trabalhado um contrato de três álbuns. Agora que isso tinha sido realizado, Jackson tomou a decisão de não renovar. Alguns leram isso como Jackson traindo Jones ou especularam sobre um desentendimento. Certamente houve algumas tensões nos anos finais. Depois de uma década de trabalho juntos, Jackson sentia-se ansioso para desabrochar sozinho. O desejo dele por mais independência já tinha aparecido com os amplamente separados times criativos, que ele reuniu para Bad. A verdade era, porém, que Jackson retinha um enorme montante de amor e respeito por Quincy Jones.
“Michael não estava bravo com Quincy” disse o compositor/músico Brad Buxer. “Ele sempre teve admiração por ele e imenso respeito. Mas com Dangerous, Michael queria controlar o processo criativo de A a Z. Simplesmente determinar, ele queria ser o próprio chefe. Michael sempre foi muito independente e ele queria também mostrar que o sucesso dele não era devido a um homem chamado Quincy.”
 Para Jackson, esta autonomia completa era revigorante e libertadora. Ele começou em um gama de faixas experimentais com pessoas como Bill Bottrell, Brad Buxer e Matt Forger no Westlake Studios. Muitas das músicas resultantes dessas sessões – incluindo demos de “Black or White”, “Who Is It”, “Monkey Business”, “Dangerous” e “Earth Song” – eram diferentes de tudo que Jackson tinha feito antes. Não apenas eram as canções e o estilo envolvido, mas o material estava se tornando mais desafiador. Pelo fim de 1989, um planejado álbum duplo, um pacote gratest-hits, chamado Decade, o qual apresentaria quatro músicas novas em adição aos clássicos, foi engavetado devido ao influxo do material novo. Jackson estava já relutante em fazer um projeto que olhasse para trás, mas uma vez que os executivos da Sony ouviram algumas das primeiras faixas para Dangerous, eles foram convencidos que valeria apena esperar. 
O engenheiro de gravação Matt Forger, que tinha trabalhado com Jackson, desde Thriller, relembra os anos entre Bad e Dangerous como um constante fluxo de criatividade: “Com Michael, ele nunca parou de criar. Ele não era um artista que dizia: ‘Oh, eu tenho um álbum vindo, é melhor eu começar a escrever músicas. ’ As músicas estavam constantemente brotando dele; e se não era uma música, era um poema, era uma ideia para uma história ou curta-metragem... Era um processo criativo constante.”
Em 1990, Bill Bottrell introduziu o talentoso tecladista, Brad Buxer, que tinha anteriormente trabalhado com Stevie Wonder. Buxer participou de uma sessão de estúdio de “Heal the World” e a química com Jackson foi imediata. “Era quase inacreditavelmente realidade”, relembra Buxer. “Eu nunca esquecerei meu primeiro encontro com ele. A corrente imediatamente passou entre nós. Musicalmente falando, nós estávamos na mesma sintonia; nós falávamos a mesma língua.”
 
Jackson valorizava os instintos de Buxer, assim como o treinamento clássico e versatilidade dele. O par trabalharia junto, de perto, pelos próximos vinte anos. “Ele estava sempre aberto às minhas sugestões e ideias”, diz Buxer. “Ele deu a mim completa confiança... De um ponto de vista musical, Michael era um gênio; ele sabia que ele não podia fazer tudo e ele teve a inteligência de delegar algumas coisas. Às vezes, ele sabia exatamente o que ele queria ouvir, todas as partes de uma música. Outras vezes, ele me deixava tocar alguma coisa até que ele gostasse.”


Um iluminado momento entre um par improvável: Michael Jackson e Slash, preparando-se para uma performance em 1991.
 
                                            
 


Jackson tinha um relacionamento similar com Bill Bottrell, quem se tornou um dos contribuidores-chaves para Dangerous. Bottrell esteve trabalhando com Jackson as primeiras sessões de Bad em 1985. “Eu era um engenheiro quando ele me contratou”, relembra Bottrell. “Eu trabalhava naquele momento em L.A. Michael começou a pedir, diferentemente de todos os meus outros clientes, para assumir mais responsabilidade.” Em 1989, Bottrell tinha se estabelecido como um respeitado e procurado compositor/produtor/engenheiro, que ganhou um Grammy e um hit #1 por engenhar a seminal faixa de Madonna, “Like a Prayer” (poucos anos mais tarde, ele produziria o álbum inaugural de Sheryl Crow).
Bottrell trouxe uma sensibilidade musical diferente de Quincy ou Teddy Riley. Ele podia fazer pop, mas ele mesclava isso com elementos do rock, blues, folk e country. Jackson não apenas gostou do som alternativo que Bottrell forneceu, mas ele também sentiu que eles desafiavam um ao outro. Bottrell poderia revelar regiões da arte de Jackson que ele nunca tinha explorado antes, o que excitava Jackson. O respeito era mútuo. “Foi Michael, na verdade, quem me extraiu como músico”, reconhece Bottrell. “Ele me sussurraria coisas e ia embora e eu ficaria lá sozinho, por duas semanas, trabalhando em uma faixa. Eu estava acostumado a samplear, mas ele precisava de música; guitarra, teclados, você nomeie isso. Era o que ele esperava de mim. Ele supôs que eu podia fazer isso, e desde que eu tinha sido um músico antes de ser um engenheiro, eu apenas segui o comando dele.” 
Jackson e Bottrell trabalharam juntos, em jorros, durante os três anos seguintes, nas faixas individuais, e o álbum como um todo começou a se fundir. “Michael estava sempre preparado para escutar e depositar confiança em mim”, Bottrell recorda, “mas ele também meio que guiava o tempo todo. Ele sabia por que eu estava lá e, dentre tosas as músicas que ele estava gravando, o que ele precisava de mim. Eu era uma influência que ele não teve de outro modo. Eu era o cara dor rock e também o cara country, o que ninguém mais era. Ele tinha precisos instintos musicais. Ele tinha um álbum inteiro na cabeça dele e tentava fazer as pessoas entregarem isso a ele. Às vezes, as pessoas o surpreendiam e argumentavam o que ele ouvia, mas realmente era trabalho dele extrair dos músicos e produtores e engenheiros o que ele ouvia quando ele acordava pela manhã.” Três colaborações Jackson-Bottrell – “Black or White”, “Give In To Me” e “Who Is It” – acabariam no álbum, enquanto várias outras – incluindo “Earth Song” e “Monkey Business” – surgiram em lançamentos subsequentes.
Enquanto isso levou mais que um ano para coordenar, Jackson também foi capaz de alistar o mais popular guitarrista daquela época, Slash, do Guns N’ Roses, para duas dessas faixas. Parecia um emparelhamento improvável, mas falou para o respeito que Jackson provocava em todas as áreas da indústria da música. “Ele é um entertainer tremendamente brilhante”, Slash diria mais tarde, “um completo natural. Ele é o único cara que eu já conheci que é real, para este tipo de música. Eu cresci ouvindo o Jackson 5. Eu costumava adorar ‘Dancing Machine’. Nós temos sido amigos por um tempo, portanto, ele apenas me deixa fazer o que eu quero fazer. Eu pego uma moldura básica e crio minha parte e eles a editam. Eu me pergunto, às vezes, como isso soa [gargalhadas], mas todas as vezes, eles fazem um ótimo trabalho. Ele é muito perspicaz. Ele tem um ótimo, sarcástico, senso de humor. As pessoas sempre me perguntam, ‘Ele é estranho?’ Bem, ele é diferente. Mas eu sei o que é ser estranho, crescer nos negócios da música. Eu tenho que admitir que trabalhar com Michael Jackson é diferente de trabalhar com sua básica, áspera, banda de rock ‘n’ roll. Uma vez, quando eu fui tocar com Michael, ele entrou com Brook Shields e lá estava eu com um cigarro em uma mão e minha guitarra pendurada no meu pescoço. E ele não se importou. Não é esse o jeito dele, mas eu não tenho que mudar por ele. Ele me aceita como eu sou.”
Do mesmo modo, para a música com base gospel, Jackson contratou o talentoso compositor Glen Ballard e Siedah Garrett (que tinham coescrito “Man in the Mirror”) e o Coro Andraé Crouch Singer (que performou tanto em “Will You Be There”, quanto em “Keep the Faith”).
Em 1990, as gravações de Dangerous tinham mudado do Westlake para o Record One nas instalações do Ocean Way. O material continuou vindo, enquanto Jackson experimentava novos colaboradores, incluindo grandes tiros R&B, L.A. Reid e Babyface (nenhum dos trabalhos deles entrou em Dangerous). Jackson também gravou várias músicas com Bryan Loren e Richard Cottrell, incluindo faixas funky como “Work That Body” e “Superfly Sister” (a última das quais surgiria em Blood On The Dance Floor). Loren ficou muito desapontado quando ele soube que nenhuma das faixas dele estaria no álbum Dangerous. “Nós gravamos mais de vinte faixas juntos”, recorda Loren. “Infelizmente, muitas delas nós nunca terminamos. Mas quando nós fizemos os vocais, além do trabalho principal dele, sempre foi um prazer escutar este homem colocando harmonias de fundo em camadas. A voz dele é verdadeiramente única. Realmente puro tom e ótima entonação.”
Enquanto muito desse trabalho era muito bom, Jackson ainda estava procurando. Ele queria algo mais ousado e corajoso para as faixas de dança. “Michael adorava encontrar novos sons que o ouvido humano nunca tinha escutado”, recorda Brad Buxer. “Sempre, ele [diria] ‘Brad, traga-me um som que machuque muito’. Isso significava que ele queria algo que o balançasse por dentro.” Buxer e Matt Foger recordam sair e gravar sons de “orgânica” percussão. Eles bateriam em coisas como vidro, metal ou latas de lixo (ocasionalmente com bastões de baseboll) e Teddy Riley gravou amostras do zoológico de Jackson em Neverland. Jackson simplesmente ouvia “música” em tudo e pedia aos colaboradores dele para gravar isso e armazenar para uso potencial.
 
Teddy Riley finalmente veio para o projeto perto do fim de 1990. Por essa época, Jackson tinha trabalho em mais que setenta potenciais músicas para o álbum, mas ainda queria mais. Riley, ele determinou, poderia ser o ingrediente que faltava. Quando ele ligou para perguntar ao jovem produtor se ele queria ajudar, Riley não hesitou. Trabalhar com o Rei do Pop foi a oportunidade de uma vida; ele ficou estático por receber aquela ligação. Ele não era, obviamente, no entanto, o maior sapato que ele estava calçando. “Havia mais pressão”, ele diz. “Eu não queria ser aquele que falhou com Michael.” Mas ele também sabia que Jackson não queria que ele fosse Quincy Jones.
Quando Riley chegou a Neverland, Jackson o levou a um passeio pelo quintal, enquanto eles falavam de vida e música. Riley se lembra de Jackson perguntando a ele, especificamente, sobre uma música que ele tinha gravado com Guy, chamada “Spend the Night”. “Ele começou a scatting e beatboxing diferentes partes dela”, recorda Riley, “querendo saber se eu tinha certos sons. Ele me disse que [ela] era, das minhas músicas, a favorita dele; e ele queria que eu desse a ele algo mais forte que ela”.
Aquela noite Jackson tinha um helicóptero levando Riley próximo a Universal Hilton. “Eu não chequei até um ano e dois meses mais tarde”, relembra Riley. Na verdade, Riley gastou metade do tempo dormindo no Lerrabee Studios, enquanto ele trabalhava faixa após faixa para Dangerous.
Ainda, quando ele chegou pela primeira vez, Riley ficou, compreensivelmente, um pouco intimidado por estar trabalhando com Michael Jackson. Naquele ponto, Jackson o confrontou dizendo: “Escute, você terá realmente que me produzir... Eu preciso que você me diga, eu preciso que você me critique, eu preciso que você comente, eu preciso que você me dê tudo de si.”
Jackson não apenas trabalhou com Riley em novas músicas, mas em algumas que ele tinha gravado versões anteriores, incluindo “Jam” e “Dangerous”. “Teddy foi muito profissional”, disse o engenheiro de gravação de longa data de Jackson, Bruce Swedien. “Sem problemas. Ele veio com um groove, nós diríamos que isso não estava exatamente correto, e não haveria reclamações. Ele apenas iria de volta e retornaria e nos surpreenderia com algo como ‘Dangerous’.”
Riley aprendeu os gostos e desgostos de Jackson logo, e foi rápido em adaptara as características do som new jack. “Eu estava usando muita coisa vinatage para conseguir o som que precisávamos”, Riley recorda. “Reeds e SSL XLs foi, essencialmente, o veículo que nós usamos – eu sempre amei vinatage mais que digital. Era melhor... muito mais quente.” De uma particular troca, Riley se lembra de Jackson dizendo, “‘Você sabe que eu gostaria de ter sobreposto a new jack swing? Eu gostaria de ter minhas cordas. Eu gostaria de ter as cordas realmente selvagens’ portanto, isso foi o que nós fizemos, mesmo em Dagerous. ’” Jackson também se recusou a usar sons estocados – assim, quando eles não usavam instrumentos ao vivo, eles manipulavam o som no estúdio.”
Quando a feitura do álbum desenrolou, Riley, admitidamente, aprendeu tanto quanto ele dirigiu. “Ele sempre me empurrava para ser diferente, inovador e forte. Ele era exigente e nós trabalharíamos por muito tempo; nós sempre tínhamos que conseguir a mixagem certa. Nós tínhamos os elementos, mas nós tínhamos que conseguir a mixagem certa.” 
 

Ele queria que Dangerous fosse o melhor trabalho que ele já fez. Ele queria provar que ele poderia fazer um grande álbum sem Quincy Jones.

 
No fim, porém, o trabalho árduo valeu a pena. Exatamente metade das quatorze músicas do álbum eram produtos Jackson-Riley. Foi uma escolha fortuita da parte de Jackson – requerendo paciência, risco e alguma sorte – mas isso rendeu muitos dividendos. Quando Jackson disse a Riley as boas notícias – que sete das colaborações deles estariam no álbum, Riley ficou na lua. ‘Eu me senti confidente que ‘Remember the Time’ faria parte da trilha sonora, mas eu fiquei surpreso quando ele mencionou os nomes de outras seis músicas que tínhamos feito juntos. ‘Essas são todas ótimas!’, ele disse.”
Com muitas novas faces a bordo, o principal standby, para Jackson, era Bruce Swedien, que se juntou ao novo time em 1990. Swedien não era apenas um profissional consumado e brilhante em trazer à tona a vitalidade das performances de Jackson, mas também era alguém com quem Jackson podia contar. Enquanto cantava “Keep the Faith”, durante as estressantes semanas finais de gravação, Swedien se lembra de Jackson, de repente, saindo no meio da sessão. Ele o encontrou de pé, no canto de um escritório, “debulhando em lágrimas”. O perfeccionismo e a ansiedade dele sobre a música (e o álbum como um todo) o tinha, finalmente, arrebatado. Swedien acabou acalmando Jackson e os dois voltaram a trabalhar na música. Já era tarde da noite, mas Swedien disse a Jackson: “Nós não iremos para casa até que você tenha cantado tudo isso até o fim.” Eles não deixaram o estúdio até o dia amanhecer, mas Jackson foi para casa satisfeito com o resultado.
Com este time criativo diverso, talentoso, Jackson aparelhou Dangerous com toda a energia, imaginação e trabalho árduo que ele possuía. As gravações aconteceriam intermitentemente por, aproximadamente, três anos, o que testou a paciência de todos. Porém, Jackson estava em uma alta criativa, e a paixão dele era contagiosa. Ele queria que Dangerous fosse o melhor trabalho que ele já tinha feito. Ele queria provar que ele podia fazer um ótimo álbum sem Quincy Jones. Ele queria que vendesse cem milhões de cópias. Ele queria que a qualidade fosse tão alta que a música “viveria para sempre”. Eram objetivos elevados, contudo, Jackson nunca foi de objetivos pequenos.
Foi um momento excitante, rejuvenescedor, em muitas maneiras, para Jackson. Em adição ao novo time criativo, ele também adquiriu uma nova casa em 1988: um isolado rancho no lindo Vale Santa Inez (localizado a cerca de cem milhas ao norte de Los Angeles). Ele o chamaria de Neverland. 
Jackson se apaixonou pela área, em 1982, quando filmava o vídeo para a música “Say Say Say”, com Paul McCartney. Neverland era, então, chamada de Sycamore Ranch, uma propriedade de 2.700 acres, que apresentava uma casa de campo no estilo inglês, com lindos detalhes de madeira, dezessete ambientes e uma adega. A propriedade estava na saída de Los Olivos, uma exótica vila de mil habitantes, conhecida pelas galerias de arte, vinho, e antiguidades dela. Longe da agitação e da poluição de Los Angeles, o Vale Santa Inez era um lugar tranquilo, particular, com vistas pitorescas, colinas ondulantes, e ranchos que se espalhavam. Parecia ser a fuga perfeita para o incessantemente perseguido superstar.
Durante os seguintes meses e anos, Jackson investiria a mesma energia criativa que ele dava à música dele na nova casa. Jackson já tinha transformado a compartilhada casa dele em Encino em um tipo de fanatasyland, estilo Disney, completa com animais exóticos, uma miniatura da Main Street, U.S.A., e um pequeno teatro. “Eu coloquei estas coisas aqui, assim, eu nunca terei que sair daqui”, ele explicou. Jackson tinha uma visão ainda maior para a nova propriedade dele.
Neverland era um paraíso infantil: Havia um trem estilo C.P. Huntington (similar ao da Disney) que circulava grande parte do campo. Havia tendas indígenas, fortes e barricadas para guerras de balões de água. Havia um parque de diversões completo, com carrinhos de bate-bate, um brinquedo voador, e uma enorme roda gigante; uma casa de recreação e uma árcade; e um lago de cinco acres com uma ponte e uma cascata, um zoológico com girafas e cervos, zebras, lhamas, leões e chimpanzés. Um belo teatro foi mobiliado com luxuosos assentos rubros, um palco em tamanho natural, e uma tela de cinema. Bem do lado de fora do teatro – passadas as bancas cheias de doces, bebidas e pipoca – um letreiro anunciava que filme estava sendo apresentado àquela noite. Havia estátuas de alegres crianças em todos os lugares e, por toda a área, alto-falantes tocavam música clássica de compositores como Debussy e Tchaikovsky. 
Neverland Ranch era um mundo de imaginação tornado real, uma fechada Utopia, um esconderijo longe de fãs histéricos, repórteres, fotógrafos, advogados, empresários e executivos musicais. Longe até mesmo do pai e da família dele. Era um lugar com o qual ele sempre tinha sonhado secretamente.
 Isolado em Neverland, Jackson agora com trinta e um anos, se sentia livre apara explorar regiões da identidade dele, a visão do mundo, e propósito, que ele nunca teve antes. Quando ele estava criando, ela não estava lendo vorazmente; tudo, desde os versos de Emerson e Wordsworth às biografias de Michelangelo e Beethoven; da psicologia de Freud e Jung à poesia de Sufi (a biblioteca pessoal de Jackson continha mais de vinte mil títulos, incluindo várias das primeiras edições dos clássicos favoritos dele). Jackson também começou a meditar. Em 1988, ele se tornou amigo íntimo do médico e espiritualista indiano, Deepak Chopra, quem encorajou Jackson a desenvolver e expressar as intuições dele sobre o mundo. “Eu me sentei com ele por horas”, recorda Chopra, “enquanto ele sonhadoramente tecia, no estilo contos de Aesop, contos sobre animais, misturado com palavras sobre música e o amor dele de todas as coisas musicais. Esse projeto se tornou Dancing the Dream [publicado por Doubleday em 1992] depois que eu reuni os textos para ele, agindo estritamente como um amigo. Foi esse tempo juntos que me convenceu que o modus vivendi de Michael tinha sido concebido por ele mesmo: para conter o maremoto de stress que acompanha o estrelato, ele construiu um retrato privado, em um mundo de fantasia, onde nuvens cor de rosa velavam a angústia interior, e Peter Pan era um herói, não uma patologia”.
Para Jackson foi um importante tempo de autodescobrimento. Espiritualmente, ele tinha amplamente ultrapassado a visão de mundo exclusiva, apocalíptica da religião da infância dele, Testemunhas de Jeová (em 1987, ele oficialmente retirou a adesão dele). O Deus das Testemunhas de Jeová era muito bravo e cruel para a sensibilidade de Jackson compreender. O Deus da infância dele não permitia aniversários ou Natais. Ele era vingativo e exigente. Era muito parecido com o pai de Jackson. Jackson relembra as anciãs Testemunhas de Jeová chamando a performance “Motown 25” dele de “dança burlesque indecente”, e o vídeo Thriller, “demoníaco”. “Quando eu fiz certas coisas no passado que eu não percebi que eram contra a religião e eu fui reprimido por isso, isso quase me destruiu”, Jackson confessou. “Certas coisas que eu fiz como um artista na minha música, eu não percebi que estavam cruzando uma linha com eles e quando eles me repreenderam isso realmente me magoou. Quase me destruiu. Minha mãe viu isso.”

























 
O portão para o mítico lar de Jackson, Neverland Ranch. Jackson comprou a propriedade em 1988 e viveu lá até 2005.
                                                                           





No lugar deste fundamentalismo, Jackson estava desenvolvendo uma visão do mundo mais naturalística, inclusiva, que, por sua vez, teve um profundo impacto na arte dele. Em uma peça chamada “God”, em Dancing the Dream, ele escreveu: “É estranho que Deus não se importa em expressar-se, Ele /Ela, em todas as religiões do mundo, enquanto as pessoas continuam se agarrando à noção de que o jeito deles é o único jeito certo... Para mim, a forma de Deus não é a coisa mais importante. O que é mais importante é a essência. Minhas músicas e danças são delineadas por Ele para vir e preencher. Eu ofereço a forma, Ela coloca na doçura... Eu tenho olhado para o céu noturno e contemplado as estrelas tão intimamente de perto, é como se minha avó as tivesse feito para mim... Mas para mim o mais doce contato com Deus não tem forma. Eu fecho meus olhos, olho para dentro, e entro em um suave silêncio profundo. A infinidade da criação de Deus me envolve. Nós somos um.” 
Jackson ainda apreciava muitos rituais, costumes, e comunidades de religiões. Agora, no entanto, ele vê Deus menos como uma figura autoritária, e mais como uma energia criativa.
 
Muito do resto de Dancing the Dream fornece vislumbres da visão romântica, maravilhosa, de Jackson sobre o “mundo em volta de nós e o universo dentro de cada um de nós”. Esse é um livro que tem recebido pouca atenção; mas anos depois da publicação, Jackson disse que ela era uma melhor representação dele que a autobiografia.
 
Em “Planet Earth” ele fala para a Terra como um amante, perguntando: “Você se importa, você tem uma parte/Na profunda emoção do meu próprio coração/ Suave com brisas, carícias e inteiramente/ Viva com música, assombrando minha alma.” O poema de Jackson “Magic Child” carrega ecos do poeta inglês William Wordsworth, com a mensagem de sabedoria, verdade e êxtase encontrada na inocência e pureza das crianças. “E enquanto eles sussurravam e conspiravam” escreve Jackson, “Através dos infinitos rumores para deixa-lo cansado/ Para matar a maravilha dele, espezinhá-lo/ Queimar a coragem dele, alimentar o medo dele/ A criança continua apenas simples, sincera.” Em outros trabalhos, Jackson escreve sobre graça e a alegria de golfinhos, a liberdade de falcões e a majestade de elefantes. 
“O mundo inteiro abunda em mágica”, Jackson exclama em uma obra. “Quando uma baleia precipita para fora do mar como uma montanha recém-nascida, você se sobressalta em inesperado deleite... Mas uma criança que vê o primeiro girino dela cintilando em uma poça de lama sente a mesma emoção. Maravilha alimenta nosso coração, porque ele tem relance de um momento de diversão da vida... Toda vez que o sol nasce, a Natureza está repetindo um comando: ‘Contemple! ’ A magia dela é infinitamente prodigiosa e em troca tudo que nós temos que fazer é apreciá-la.”
A linguagem de Jackson vividamente evoca o êxtase da emoção da criação: “Que deleite a natureza deve sentir quando ela faz estrelas de um turbilhão de gases e espaço vazio”, ele escreve. “Ela as arremessa como lantejoulas de uma capa de veludo, um bilhão de razões para que nos despertemos em puro gozo. Quando nós abrimos nossos corações e apreciamos tudo que ela nos dá, a Natureza encontra a recompensa dela. O som de aplausos rola através do universo, e ela se curva.”
 
O livro foi, na maioria, ignorado ou zombado por críticos; a sinceridade de Jackson fez dele um alvo fácil. Mas o livro fornece uma fascinante janela para o interior do artista, que tinha uma misteriosa habilidade de experimentar (e demonstrar nas performances) o que Deepak Chopra descreveu como a “sensação de Deus” – um transcendente, “estado estático”, que dissolve linhas duras, barreiras e ideologias e reconhece, em vez disso, a unidade da existência – entre diferentes raças, culturas e religiões, entre mente e corpo, entre seres humanos, natureza e animais. “Toda a vida está em mim”. Ele escreveu em uma das obras finais. “As crianças e a dor delas; as crianças e a alegrias delas. O oceano expande sob o sol; o oceano gotejando com petróleo. Os animais caçando com medo; os animais estourando com a pura alegria de estar vivo.”










Jackson posa com uma dançarina indiana no set do vídeo dele, Black or White. A visão mundial e ambição criatividade dele estava expandindo dramaticamente quando os anos 90 começaram.


 



Era uma filosofia que parecia não tiver nenhum problema como “lá fora”. “Você e eu nunca nos separamos”, Jackson diz, “É apenas uma ilusão.” Ele, similarmente, colapsa o espaço entre humanos e divino/universo: “Este mundo em que vivemos é a dança do criador. Dançarinos vêm e vão, em um piscar de olhos, mas a dança continua. Em muitas ocasiões, quando eu estou dançando, eu me sinto tocado por algo sagrado. Nesses momentos, eu sinto meu espírito plainar e se tornar um com tudo que existe. Eu me torno as estrelas e a lua. Eu me torno a amante e o amado. Eu me torno o vitorioso e o conquistado. Eu me torno o mestre e o escravo. Eu me torno o cantor e a canção. Eu me torno o conhecedor e o conhecido. Eu continuo dançando e, então, essa é a eterna dança da criação. O criador e a criatura se fundem naquela plenitude de alegria. Eu continuo dançando e dançando... e dançando, até existir apenas... a dança.”
 
Com tal visão sobre vida e criatividade, Jackson também tinha uma clara visão do que ele esperava realizar com a música. “Eu realmente acredito que Deus escolhe pessoas para fazer certas coisas”, Jackson explicou à revista Ebony, em 1992, “a forma como Michelangelo ou Leonardo da Vinci ou Mozart ou Muhammed Ali ou Martin Luther King Jr. é escolhido. E que é a missão deles fazer essa coisa. E eu sinto que eu não tenho riscado a superfície ainda do que é meu verdadeiro propósito de estar aqui. Eu estou comprometido com minha arte. Eu acredito que toda arte tem como definitivo objetivo dela a união entre o material e o espiritual, o humano e o divino. E eu acredito que essa é a maior razão para a existência de um artista e o que eu faço. E eu me sinto afortunado em ser este instrumento através do qual a música flui”.
Em citações como essa alguém poderia sentir uma nova confiança em Jackson, uma profunda consciência do que ele queria alcançar além da fama e sucesso comercial. Parecia que o espetáculo circense de artimanhas publicitárias e distrações (se voluntariosa ou não), que tão frequentemente o definiu durante a era Bad tinham ido. Jackson queria que o foco – tanto o dele próprio quanto o da audiência dele – voltasse para arte dele. Com uma nova casa, novo empresário, e novos parceiros criativos, ele tinha uma nova paleta na qual trabalhar. Ele queria mostrar ao mundo algo diferente do que ele já tinha feito antes – algo que iria ressoar em um nível profundo, uma obra de arte, algo que iria viver.
No total, Michael Jackson trabalhou em Dangerous por mais de três anos. Com vários estúdios reservados em todo o tempo – principalmente no Recorde One e Larrabee (ambos em Los Angeles) – o álbum custou aproximadamente $10 milhões, um montante inédito na indústria da música (antes e depois). Jackson gravou, aproximadamente, uma centena de músicas, em vários estados de completude, para Dangerous. Muitas faixas brilhantes, por uma variedade de razões, não fizeram o corte final (incluindo destaques como “Earth Song”, “Blood on the Dance Floor” e “Dou You Know Where Your Children Are”).
O perfeccionismo de Jackson significava que ele se recusaria a lançar qualquer coisa até que estivesse tão perto da meta quanto possível. “Eu nunca estou satisfeito com nada”, ele confessou mais tarde. “Depois que eu corto uma faixa, eu vou para casa e digo, ‘oh, não, isto não está certo’, e você apenas volta e volta.” Enquanto ele estava na maior parte competindo com ele mesmo, ele era motivado pela inovação artística do álbum de 1990 da irmã dele, Janet, Rythman Nation 1814. O álbum e os vídeos dele foram, ambos, vanguardistas e elogiados pelos críticos. As batidas eram afiadas, angulares e mecânicas; o imaginário, desabitado, urbano, de estilo militar e sexual. Michael amou isso, especialmente a faixa título. Essa foi uma das razões por que ele procurou Teddy Riley para substituir o funk mais arejado de Bryan Loren. Ele queria que as faixas de dança em Dangerous realmente acertassem o ouvinte e ele queria que o material tivesse mais consciência de rua.
 Finalmente, no fim do verão/início do outono de 1991, sob pressão do empresário dele, Sony e fãs, do mesmo modo, Jackson percebeu, apesar do constante fluxo de novas ideias e material, que era tempo de determinar uma data definitiva para concluir o projeto. Durante os dois meses finais, Jackson e Bruce Swedien ficaram em um hotel apenas minutos distante do estúdio, assim, eles podiam voltar ao trabalho tão rápido quanto possível. “Nós dirigíamos até o estúdio e trabalhávamos até que não pudéssemos trabalhar mais”, recorda Swedien. “Depois, nós dirigíamos de volta ao hotel, íamos dormir e, depois, voltávamos de manhã e acertávamos isso de novo.” 
A semana final de outubro foi uma total corrida para o acabamento. “nos últimos dias do projeto, Michael e eu tínhamos quatro horas de sono”, relembra Bruce Swedien.
 
Dangerous foi finalmente completado cedo na manhã de 31 de outubro de 1991. Um ainda hesitante Jackson, contudo, queria mais uma opinião: a do mentor de longa data dele, Quincy Jones. Depois de enviar o CD, Jackson, ansiosamente, esperou a resposta. Não muito depois, ele foi respondido: Quincy sentiu que Dangerous era “uma obra prima”. Jackson ficou exultante. Ele finalmente se sentiu pronto para liberar o trabalho dele para o público.
 
Para a mídia, todo álbum de Michael Jackson depois de Thriller era medido em relação ao impossível padrão comercial dele. Se o novo álbum dele não vendia mais cópias que o álbum mais vendido de todos os tempos, era considerado um fracasso. Em 1991, uma manchete do New York Times dizia: “THRILLER” – MICHAEL JACKSON PODE BEAIT IT? “Esse é o desafio que Jackson enfrenta”, ecoou a Rolling Stone. Enquanto isso fazia boas forragens para a mídia, porém, tendia a obscurecer a atenção para a verdadeira qualidade do álbum. 
Jackson, ele mesmo, é claro, atuou dentro dessas expectativas. Desde o início, ele deixou claro para os produtores e colaboradores que ele não apenas queria superar Thriller, mas ele queria que Dangerous vendesse cem milhões de cópias.
 
Jackson, certamente, teve um bom começo. Antes mesmo de o álbum ser lançado, o vídeo Black or White, fez história. Exibido simultaneamente na FOX (alcançando a maior audiência dela em todos os tempos), BET, VH1 e MTV, o vídeo Black or White foi assistido em mais de vinte e sete países por uma estimada audiência de quinhentos milhões de espectadores. A reação foi esmagadora. Black or White se tornou o vídeo mais assistido da história da MTV, ultrapassando até mesmo Thriller.
 
O single, da mesma forma, dominou as ondas do rádio. Uma estação de New York o tocou por noventa minutos diretos para satisfazer as exigências da audiência. Dentro de vinte e quatro horas, a música tinha sido adicionada a noventa e seis por cento da trilha sonora nas estações de rádio americanas. Dentro de semanas, “Black or White” alcançou o primeiro lugar nos charts – a mais rápida subida nos charts desde “Get Back” do Beatles, em 1969 –, onde ela ficaria por seis semanas, tornando-se a música mais bem sucedida de Jackson desde “Billie Jean”. Ela também se tronou #1 em outros dezenoves países, incluindo o Reino Unido, Israel e Zimbabwe.
 
 
A MTV dedicou um fim de semana inteiro exclusivamente ao material de Michael Jackson, referindo-se a ele, repetidamente, como “o Rei do Pop” (uma estratégia de makerting elaborada pelo empresário de Jackson anos antes). A reclamação à realeza pop, o que alguns consideraram egoística, poderia dificilmente ser disputada: “Black or White” deu a Jackson um #1 hit em cada uma das últimas três décadas, uma marca nunca alcançada antes por um artista solo e um testamento do poder permanente dele.
Enquanto a música e o vídeo, de muitas maneiras, encontraram sucesso sem precedentes, contudo, não foi sem detratores. A sequência final do vídeo, sempre referido como “a sequencia da pantera”, gerou uma tempestade de fogo de controvérsia por ser muito violenta e sexual. Alguns a descreveram como uma “traição” aos fãs de longa data dele. Uma história de capa para o Entertainment Weekly chamou Black or White de o “vídeo pesadelo” de Jackson. “Isto é como usar conversa de banheiro para chamar a atenção.” Disse Peggy Charren, do Action for Children’s Television (ACT). “Eu gostaria de saber se alguma das pessoas envolvidas com isso teve as vitrines quebradas ou as janelas dos carros delas estilhaçadas.”
Em resposta a este frenesi, Jackson emitiu uma declaração dizendo que ele simplesmente quis retratar os instintos animalescos da pantera e mostrar a destrutividade da discriminação. “Chateia-me pensar que ‘Black or White’ poderia influenciar qualquer criança ou adulto a comportamento destrutivo, sexual ou violento”, ele disse. Apesar das explicações dele, no entanto, espectadores “ofendidos” prevaleceram, e as redes de televisão, subsequentemente, censuraram o segmento final. (De acordo com Bill Bottrell, algumas estações de rádio também censuraram o segmento de rap de “Black or White”, sentido que isso não era apropriado para a tradicional rádio pop/rock.).











 
                          Black or White é o video mais assitido – e  
                          controverso  –  de Jackson.

 





Como outros vídeos controversos da época (Like a Prayer de Madonna e Jeremy de Pearl Jam), o vídeo atingiu um nervo sensível, apresentando desconfortáveis questões sobre racismo, violência, e sexualidade. Ele também aumentou a já visceral fofoca em torno do novo álbum de Jackson. Jackson tinha estado costumeiramente quieto desde o lançamento de Bad e a turnê subsequente dele. Agora, com um novo single subindo nos charts e o vídeo agitando controvérsia e debates, ficou claro que muitos ansiavam pela aparição de Michael Jackson. A antecipação era tão alta, na verdade, que assaltantes venderam trinta mil cópias do novo álbum, no terminal aéreo de Los Angeles, antes do lançamento oficial dele. No final de novembro, fãs em todo o mundo estavam fazendo fila para pegar a cópia deles de Dangerous. 
Antes mesmo que as pessoas ouvissem a música, elas eram confrontadas com a fascinante capa do álbum. Uma pintura acrílica envernizada criada (com a contribuição de Jackson) pelo surrealista pop, Mark Ryden, ela foi descrita por um crítico como uma “capa tão carregada de simbolismo que poderia fornecer munição para um inteiro simpósio de psiquiatras pop”. Na verdade, não desde a capa de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles, um álbum continha tão misteriosa e intrigante embalagem (uma edição especial, de 1992, do álbum foi embalada com uma caixa grande, que, quando dobrada, abria como um diorama). À primeira vista, a capa parecia a exibição para o circo, com Michael Jackson sendo prometido como “o maior espetáculo da Terra”. Próximo ao fundo, vestido em um terno, na verdade, está ninguém menos que P.T. Barnum, o legendário showman com quem Jackson se tornou fascinado em meados dos anos oitenta. Circenses, é claro, eram espetáculos públicos, e Jackson parecia estar reconhecendo, para melhor ou pior, que isso é o que a pessoa “Michael Jackson” tinha se tornado.
 
A pintura também parecia, divertidamente, repelir essa caracterização. Jackson está consciente da forma como ele é percebido e, às vezes, deliberadamente desempenha o papel. Dessa forma, ele é responsável por designar e montar a máscara que atrai tanta atenção. Porém, por toda a atenção, ele também tenta ocultar uma parte de si mesmo atrás de uma fachada. Os olhos penetrantes de Jackson olham fixamente, a partir de uma casa de diversões pós-moderna, a sociedade; exatamente como ela o fita de volta. Isso se torna, desse modo, uma espécie de espelho. Como o famosamente pensado painel de T.J. Eckleberg, no The Great Gastby, isso veio a “significar” o que nós interpretamos no olhar disso: uma ilusória realidade, um circo, uma divindade, um trabalho de arte.

A máscara em si contém todas essas coisas, revelando um fascinante labirinto de símbolos. À direita de Jackson, está um “Cachorro Rei” sentado em um trono, vestido em um robe vermelho e segurando um cetro. A imagem é derivada da pintura de Jean August Dominique Ingres, de 1806, intitulada Napoleon On His Imperial Throne e significa poder, autoridade e dominação. (Jackson, famosamente, usou cachorros no vídeo de 1989 dele, Leave Me Alone, para representar poder corporativo e ganância.) Em oposição ao Cachorro Rei está a “Ave Rainha”, que usa púrpura e segura uma bússola e está conectada à engrenagem que bombeia vida dentro de um globo que parece uma bolha contendo um homem e uma mulher nus. Derivado de uma elaborada pintura de um excêntrico artista de século XV, Hieronymus Bosch, (The Garden of Earthy Delights), a rainha parece representar vida, criatividade e amor.
Freud teria um dia cheio com tão carregados símbolos (contudo, deveria ser notado, o psicólogo da escolha de Jackson era Jung). Na pintura, os arquétipos animus/anima são apresentados como partes de uma identidade inteira; mas como Jung, criatividade frequentemente vem do feminino. Portanto, bem abaixo da Ave Rainha, uma versão infantil de Jackson sai de um brinquedo no estilo Disney, o que pode representar a alegria simples, desinibida, da infância associada com a mãe.
Da mesma forma, exatamente debaixo olhos de Jackson, está uma indústria que parece ser inspirada pelos sons de abertura da faixa título “Dangerous” (Ryden reconheceu que ele, na verdade, tirou inspiração dos sons de Dangerous e de outros aspectos bem conhecidos da vida do cantor.). Como a máquina de “engrenagem” da Ave Rainha, a fábrica parece representar a vida interior de criatividade do artista, o que bombeia diretamente dentro de um globo em miniatura, representando o mundo. Bem no meio da capa está uma pista, sugerindo que, seguindo para o interior, alguém pode ir além da máscara e entrar no mundo criativo e alma de Michael Jackson. A máscara, em outras palavras, é apenas uma superfície; na música dele, alguém pode não apenas descobrir a “essência” dele, mas também o maior propósito do trabalho dele, que é bombear vida e energia dentro do mundo através dos ritmos, melodias e palavras da música dele.


 

Uma foto de 1991 de Jackson experimentando com um novo look. Com 
Dangerous, ele estava determinado a apresentar uma nova imagem para o público.


Um trabalho de arte em si mesma, a capa de Dangerous prepara o ouvinte para entrar em um mundo que é tão estranho quanto espetacular. 



 
Um trabalho de arte em si mesma, a capa de Dangerous prepara o ouvinte para entrar em um mundo que é tão estranho quanto espetacular. Misteriosa, sugestiva, intrigante e excitante, ela anuncia Michael Jackson, “o maior espetáculo da terra”, mas simultaneamente há mais a ser descoberto que diversão. 
Dangerous foi oficialmente lançado em 26 de novembro de 1991. A avaliação crítica inicial foi confusa, mas geralmente muito positiva. O crítico musical Mark Coleman sentiu que o “electro-groove saltitante, melódico, patenteado por [Teddy] Riley, acabou por se encaixar em Jackson como uma... luva. Esta colaboração poderia ter sido uma desastrosa tentativa de recuperar o atraso... Mas em vez de se confrontar, ou meramente coexistir, as fortes personalidades musicais de Jackson e Riley, na verdade, complementaram-se. Não há dúvidas de que é um álbum de Jackson, mas o conteúdo de Dangerous apresenta o superstar em um moderno contexto”. 
Rolling Stone chamou o álbum de um “triunfo... que não se esconde dos medos e contradições de uma vida inteira passada sob os holofotes... apesar da imagem de Peter Pan, fora do palco, a melhor música e dança de Jackson é sempre sexualmente carregada, tensa, envolvente – ele está na melhor compreensão dele, quando ele realmente é perigoso”. Stephen Thomas Erlewine do All Music, similarmente, elogiou Dangerous como “um álbum muito mais afiado, difícil, arriscado, que Bad, um que tem os olhos na rua”.
Outros, porém, foram mais temperados nas declarações deles, ansiando pelo mais brilhante e mais alegre Jackson de antigamente: “Em Dangerous, humanidade deixa Michael Jackson para baixo em cada momento”, escreveu David Rowne da Entertainment Weekly. “Mesmo as mais agudas habilidades de estúdio não podem compensar pelo buraco-na-alma que assombra o álbum. As canções de amor substituem o calor com um inquietante senso de hostilidade, e mesmo a música pop-gospel de Jackson soa desamparada, não edificante.”
Para outros críticos, as preconcepções deles sobre Michael Jackson, o assunto de tabloide, impediam-lhes de, até mesmo, ouvir o álbum objetivamente. “De todas as aparições bizarras na atual música popular, nenhuma é tão estranha quanto Michael Jackson cantando, normalmente, canções de amor”, escreveu John Pareles do New York Times. “Ele pode mal sufocá-las. Ele passa por uma palavra ou duas, apenas uma sílaba, às vezes, antes de tomar fôlego; quando ele tenta de novo, a voz dele treme com ansiedade ou cai para um desesperado sussurro, sibilando entre dentes cerrados. Enquanto ele suspira aquelas frases quebradas, música mecânica martela e estala em volta dele, algumas vezes, quase o abafando. As músicas sampleadas são inflexíveis; a batida incessante, claustrofóbica.” 
O criticismo de Pareles, no entanto, não apenas ignora os progressivos sons nas dance musics, no momento, ele também falha em reconhecer o proposito e o precedente histórico dos soluços sem palavras de Jackson, os quais foram, similarmente, usados com grande efeito por nomes como Little Richard, James Brown e Jackie Wilson e, às vezes, destinavam-se a transmitir a ansiedade e claustrofobia que Pareles notou. 
Pareles continua a descrever Dangerous como o “álbum menos confiante” de Jackson, “desde que ele se tornou um superstar... Ele soa tão ávido por recuperar a popularidade dele que ele descartou a possibilidade de se arriscar”. Pareles, contudo, falha em oferecer uma convincente explicação para como um álbum pop de setenta e sete minutos, apresentando todos os novos produtores e colaboradores, sons inovadores, consciência social e letras pessoalmente reveladoras, passando de música R&B a rock, de hip-hop a gospel, de soul a clássica (incluindo um prelúdio de orquestra de Nona Sinfonia de Beethoven) qualifica-se como inseguro e cuidadoso. Em vez disso, ele está contente em falar sobre a “excentricidade” de Jackson e especular sobre construídas manobras de markenting. 
Enquanto a reação dos críticos foi mista, porém, Dangerous tornou-se o álbum mais rapidamente vendido de Jackson, desde Thriller, vendendo seiscentas mil cópias nos Estados Unidos, apenas na primeira semana, e mais de dois milhões globalmente. No final de dezembro, apenas um mês depois do lançamento, ele tinha vendido impressionantes quatro milhões de cópias nos Estados Unidos e dez milhões em todo o mundo. Dangerous também alcançou a primeira posição em quase todos os países do mundo, incluindo Japão, Austrália e França. 
Pelos próximos dois anos, Danegerous passaria 117 semanas no Hot 200 da Billboard. Em adição a “Black or White”, três outros singles – “Remeber the Time”, “In the Close It” e “Will You Be There” – também entrariam para o top tem, nos Estados Unidos, enquanto músicas como “Heal the World”, “Jam”, “Who Is It” e “Dangerous” tornaram-se grandes hits mundiais. Dangerous se tornou o álbum mais bem sucedido de Jackson, internacionalmente, e o segundo mais bem-sucedido dele, no total, em todo o mundo; atrás apenas de Thriller.  
Em 1993, quando parecia que o álbum tinha, finalmente, seguido o curso dele, ele pegou fogo de novo, depois que Jackson performou para um recorde estabelecido de 120 milhões de espectadores no show de intervalo do Super Bowl. Menos de uma semana depois, Jackson apareceu, ao vivo, com Oprah Winfrey, em Neverland Ranch, para o “evento televisivo do ano”. Excluindo os Super Bowls, isso foi o quarto programa de TV mais assistido na história da TV, com mais de oitenta milhões de telespectadores conectados. As duas aparições impulsionou Dangerous de volta ao Top Ten, quase dezesseis meses após o lançamento original dele. 
No Grammy Award, naquele fevereiro, Jackson – presenteado com um Livin Legend Award pela irmã, Janet – parecia tão elevado quanto ele tinha sido desde Thriller. Ele tinha lançado um bem-sucedido álbum; completado a primeira etapa da turnê mundial dele; aberto à publicidade, de um jeito que ele nunca esteve antes; e redefinido a imagem dele. “Nas últimas poucas semanas”, ele disse no discurso de aceitação do Grammy, “eu tenho me purificado e isso tem sido um renascimento para mim. É como uma purificação espiritual”. Tudo parecia estar se unindo para Jackson. Apenas cinco semanas depois, no entanto, no meio da segunda etapa da Dangerous Tour, notícias de alegações de abuso sexual infantil surgiram. A vida dele nunca mais seria a mesma. 
Como um álbum, então, Dangerous representa um período intermediário para Jackson. É um álbum transacional, lançado em um momento transacional da vida dele e história da música popular. Na verdade, uma das ironias de Dangerous ser simbolicamente derrubado por Nevermind do Nirvana nos charts – desse modo, de acordo com muitas narrativas, assinalou a “morte do pop” e inaugurou a “era rock-alternativo” – é o quão similar eles são em certos aspectos. Como o crítico musical Jon Dolan nota: “O medo, depressão e sensação de criança ferida de Jackson sobre bem e mal têm mais em comum com Kurt Cobain que alguém teve tempo para perceber.”
Enquanto alguém, certamente, não consideraria “Keep the Faith” ou “Heal the World” em um álbum do Nirvana, muitas músicas, de igual forma, confrontam o desconforto e estranhamento de Jackson com o mundo que ele habita. “Jam” fala sobre ser “condicionado pelo sistema” de “confusão e contradições”. “Who Is It” é uma devastadora expressão de solidão e isolamento. Em “Black or White”, uma música que muitos críticos eliminaram como um chavão racial, Jackson antecipa a duplicidade da sociedade, cantando: “Não diga que você concorda comigo, quando eu vi você chutando terra nos meus olhos.”
 
Ao longo do tempo, contudo, reavaliações do álbum estão colocando as conquistas dele em um melhor foco. Muitos críticos e fãs, do mesmo modo, agora sentem que ele é um dos melhores álbuns dele. Em uma revisão de 2009, Ben Beaumont-Thomas chama Dangerous de “auge da carreira” de Jackson: “Com toda a admiração pelas vendas de Thriller e a bem-aventurança pré-cirurgia de Jackson”, ele escreve, “Dangerous corre o risco de se tornar ainda mais subestimado do que e agora. Isso seria uma tragédia – para mim, este é o melhor momento dele”. 
Rolling Stone tinha, logo no início, elogiado as faixas Jackson/Riley, na revisão de 1991, como “reminiscência do álbum solo de Jackson, Off the Wall, e o extrato de disco para a perfeita essência pop desse álbum”. Exatamente como Off the Wall aperfeiçoou, aprimorou e laborou em disco, Dangerous fez o mesmo para new jack swing. Compará-lo a outros álbuns new jack revela um enorme abismo em termos de riqueza, profundidade e qualidade.
É a segunda parte de Dangerous, contudo, que realmente leva o álbum a outro nível. O brilhante trio de “Black or White”, “Who Is It” e “Give In To Me” é seguido pelas majestosas cepas clássicas de “Will You Be There” e o inflamado vigor gospel de “Keep the Faith”. Finalmente, a grande fragilidade “Gone Too Soon” funde-se, lentamente, nos fornos de “Dangerous”. Isso é uma abrangente pesquisa de estilos e temas musicais, exibindo uma visão, inteligência e agilidade raramente vista em música pop. 
É impossível, é claro, dizer, definitivamente, qual álbum de Jackson é o maior. Cada um contém as próprias virtudes singulares. As justificativas de fãs são, frequentemente, mais pessoais que objetivas, enquanto críticos, frequentemente, inclinam-se com o vento cultural e comercial. Dangerous não está sem falhas também. Contudo, se não é o melhor álbum de Michael Jackson, ele faz parte da conversa. Culturalmente, falta-lhe o impacto cultural de Off the Wall e Thriller (particularmente na América), mas a música é o que definitivamente importa e, como Quincy Jones disse a Michael antes do lançamento: musicalmente, Dangerous é uma obra prima.


 No início de 1993, Jackson, visto aqui em concerto, estava experimentando 
o maior sucesso dele, desde Thriller.



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