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domingo, 28 de outubro de 2012

Capítulo 3 - Bad "Man in the Mirror"

 

7.       MAN IN THE MIRROR

 

(Escrita e composta por Siedah Garrett e Glen Ballard, produzida por Quincy Jones. Arranjos rítmicos por Glen Ballard e Quincy Jones. Arranjos de sintetizador por Glen Ballard, Quincy Jones e Jerry Hey. Arranjos vocálicos por Andraé Crouch. Vocais solo e background: Michael Jackson, apresentando Siedah Garrett, o Winans (Carvin, Marvin, Michael e Ronald), e o Coro Andraé Crouch. Palmas: Ollie E. Brown. Guitarra: Dan Huff. Teclado: Stefan Stefanovic. Sintetizadores: Glen Ballard e Randy Kerber)

 

Embora alguns críticos tenham sido lentos em reconhecer a ela o lugar de direito entre as gravações elites da música popular, “Man in the Mirror” destaca-se como clássicos como “Imagine” de John Lennon, “What’s Goin’ On”, de Marvin Gayes, e “Let It Be”, dos Beatles, como um dos maiores hinos sociais de era moderna. Uma fusão gospel apaixonada, inspirada, que chama por mudança social e individual, ela não é apenas a obra central de Bad, mas também uma das realizações coroadas da carreira de Jackson. A revista Times a chamou de “um dos mais poderosos vocais (dele) e sensível declaração social, sem mencionar o melhor uso de um coro gospel em uma música pop em todos os tempos”. Após a definitiva morte de Jackson, no verão de 2009, foi a “Man in the Mirror” (assim como “Imagine” de John Lennon) que as pessoas mais se voltaram. Mais de vinte anos depois da estreia dela, ela alcançou o #1 no iTunes e outros sites de música em todo o mundo. “Essa, mais que qualquer outra”, observou Paul Lester, “foi a música a qual foi dada um novo sopro de vida através da morte dele, pela demanda do público”. 

“Man in the Mirror” foi escrita durante as últimas sessões de Bad. “Siedah [Garrett] e eu a escrevemos para ele diretamente”, recorda Glen Ballard. “Quincy disse ‘Vocês não têm nada para nós? ’ Assim, Siedah escreveu ‘Man in the Mirror’ no sábado à noite, na minha casa, em Encino. Nós não tivemos a chance de enfeitá-la, portanto, eu não sentia que ela tinha uma chance, mas Quincy a tocou para Michael e ele disse: ‘Faça uma faixa’”.

Jackson pegou a música imediatamente; nos ensaios, ele começou a sentir o caminho dele para dentro do ritmo dela, as palavras e o significado, intuitivamente lapidando e modelando-a. “A canção foi este realmente mágico momento e ela tinha tudo a ver com a interpretação vocálica de Michael”, recorda Ballard. “Nos últimos dois minutos, [ele] começou a fazer estes encantamentos: todos os ‘shamons’ e ‘oohs’. Ele seguiu este caminho por si mesmo. Nós, certamente, não poderíamos ter escrito isso... houve todos aqueles estranhos intervalos nas harmonias vocálicas que tínhamos escrito e Michael entendeu isso totalmente, ele sentia música em essência... Ele era tão cheio de alma e ritmicamente sofisticado... Ele sabia como cantar com perfeição.” 

A música começa com uma calma confissão: com mínimo acompanhamento, Jackson estala os dedos dele e canta quase a cappella. “Eu farei uma mudança, de uma vez por todas em minha vida.” “Aqui”, observa Thom Duffy, “as fantasias encontram outro lugar em Bad, dando lugar ao realismo e uma chamada por autorreflexão e ação social”. Gradualmente, com cada verso e refrão, a energia desenvolve, enquanto ele olha para os problemas do mundo e, então, volta para si mesmo. “Eu tenho sido uma vítima/ De um tipo de amor egoísta”, ele canta.

 

É tempo de eu perceber
Que há pessoas sem casa
Sem um níquel para emprestar
Eu poderia realmente
Fingir que eles não estão sozinhos?

 

A música apresenta um forte conhecimento da cumplicidade passiva dele – e por extensão, a dos ouvintes – sobre pobreza e do sofrimento de outras pessoas. Por “fingir que eles não estão sozinhos” ou ignorar a realidade deles, ele se sente alienado da própria identidade. O espelho serve, ironicamente, como um reflexo não apenas do eu, mas também da forma como o eu foi distorcido e enganado por equivocados valores culturais. Isso é uma corajosa e oportuna declaração no meio da então chamada Me Decade da ganância, solipsism e materialismo.
 
Na verdade, enquanto alguns críticos têm ridicularizado a música por ser tão intimista (John Pareles do New York Times descreveu-a como “ativismo para eremitas”), essa interpretação parece disposta a ignorar tanto a letra quanto o ponto gospel de chamada e resposta. “Afirmações”, escreveu o crítico cultura Armond White, “são facilmente forradas, mas Jackson, ingenuamente, canta a música como um desafio... [O coro] não está afagando o ouvinte, mas cantando com uma força jubilosa comunal”. O uso do coro, em outras palavras, simboliza solidariedade e ação; a ação, no entanto, primeiro requer uma consciência individual e determinação. 

“Ninguém, desde Dylan”, argumentou Davitt Sigerson, da Rolling Stone, “tem escrito um hino de ação comunitária que tem movido tantos como ‘We Are the Wolrd’ de Michael Jackson (e Lionel). E tais planos grandiosos não podem ter êxito sem o primeiro, privado passo que Jackson descreve aqui”.

Na verdade, Jackson canta sobre desabrigados, pobreza e injustiça; ele canta sobre “sonhos desbotados”; ela canta sobre olhar para o exterior, então, para o interior, daí, para o exterior novamente. Uma vez que vemos as coisas como elas são, uma mudança definitiva é realizada; ele sugere que nós temos a chance de mudar o mundo. Enquanto a música prossegue, a culpa dele (e a dos ouvintes) transforma-se em resolução, convicção e determinação. “Eu estou começando com o homem no espelho”, ele canta, “e eu estou pedindo a ele que mude os seus modos”.

 O clímax da música é Jackson no melhor dele: o apaixonado ad-libbing, a chamada e resposta com o brilhante Coro Andraé Crouch, a exultação absorta. “Isso é uma memorável performance dramática”, observou Jay Cocks, do Times “– intensa, direta, e sem adorno, uma das melhores coisas que Jackson já fez”. A intensidade torna-se particularmente forte quando Jackson performa o hino ao vivo. A música parece possui-lo, absolutamente, enquanto ele transmite a energia, urgência e paixão dela. Na legendária performance dele no Grammy de 1988, no Radio City Music Hall, em Nova Iorque, ele improvisou uma finalização de, aproximadamente, três minutos, que deixou a audiência estupefata. “O homem branco tem que fazer a mudança”, ele cantou, “o homem negro tem que fazer a mudança”. Rolling Stone descreveu isso como uma das mais “maravilhosas performances... Jackson levou a música para a igreja, com uma produção gospel completamente desabrochada, que se sustenta como um dos mais impressionantes exercícios vocálico dele. [Ele] não ganhou nem um prêmio naquela noite, mas de certa forma, isso foi tão majestoso e definitivo quanto a Motown 25”.

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Me Decade foi um termo usado por um novelista americano para descrever o que a época em que os americanos demonstravam-se egoístas e passivos, voltados para sim próprios.
Solipsism é uma palavra que vem do Latim e significa que a única realidade que existe é o Eu.

 

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