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domingo, 28 de outubro de 2012

Man In The Music "Prólogo"

PRÓLOGO

ANTHONY DECURTIS

Durante o verão de 2001, eu trabalhei como escritor chefe para o que foi intitulado como Michael Jackson 30th Celebration, dois concertos que deveriam ser realizados no Madson Square Garden, em New York, em 8 e 10 de setembro. Os shows seriam filmados e mais tarde mostrados na televisão em formato editado e disponível em DVD. O aniversário celebrado foi o lançamento de 1971, “Got To Be There”, o primeiro single solo de Jackson no Top 5 hit. A ocasião era parte da formação para o lançamento de Invincible, o primeiro álbum de material novo dele em seis anos. Invincible viria no mês seguinte e, embora ninguém soubesse disso naquela época, seria o ultimo álbum de estúdio de Jackson.

A preparação para o show foi caótica, para dizer o mínimo. David Gest era o produtor – eu preciso dizer mais? – e convidados especiais incluindo pessoas como Liza Minelli (com quem Gest, mais tarde, se casaria e se divorciaria), Marlon Brando, Elizabeth Taylor e outras estrelas que seriam vistas freneticamente deslocadas na arena do concerto pop, especialmente naquele momento, quando Jackson precisava mais que qualquer coisa redefinir-se em termos contemporâneos. Para mim o stress daquelas semanas trabalhando no roteiro foi aumentado pelo fato de que eu me casaria em 8 de setembro, no interior do estado de Nova Iorque. Consequentemente, eu não poderia comparecer ao concerto, portanto, todo o esforço, bizarro e excitante que isso foi, parecia-me um pouco abstrato.

O evento que marcou aquele período para mim foi a manhã de ensaio a que eu compareci dois dias antes do primeiro show. Os vinte mil lugares, ou quase, estavam vazios, reservados para outros membros do pessoal do filme, trabalhadores configuravam o local para os concertos e representantes de vários artistas agendavam ensaios para a noite. Whitney Houston estava na cena parecendo vazia e distante. No palco, Michael Jackson, os irmãos dele e a banda estavam ensaiando.

Michael Jackson não estava usando as roupas de palco; eu me lembro dele usando calças largas e camiseta larga e óculos de leitura para olhar documentos que ele estava consultando. Se ele não falasse no microfone, eu não estava perto o bastante para escutar o que ele estava dizendo. Porém, Jackson sempre falaria no microfone para se certificar de que todos no palco podiam escutá-lo e o microfone estava na mão dele todo o tempo, ocasionalmente, captando a voz dele, mesmo quando não estava perto do rosto dele. A primeira preocupação dele era em preparar a coreografia para o show e era evidente que ele estava relaxado e completamente no controle. Ele falou primeiramente para o diretor musical, Greg Phillinganes; o tom dele era sempre gentil, respeitoso e profissional. Jackson estava muito focado em como ele queria os movimentos dele e aqueles nos quais os irmãos dele é que trabalhariam com a música, onde ele estaria quando as batidas fossem marcadas, os estímulos que ele precisava na música, para fazer os movimentos dele fluírem com impacto mais irresistível.

Quando ele falava fora do microfone, alguém poderia ver Jackson e Phillinganes concentrados e rindo. Eles queriam fazer as coisas direito, mas eles também estavam se divertindo, excitados com os iminentes shows. Jackson parecia um pouco distante dos irmãos dele, embora não frio ou intransigente, apenas distante. Na maior parte, ele parecia, muito, um músico e artista que sabia exatamente o que ele queria, mas também apreciava os necessários esforços feitos por outros. Ele sabia que o nome dele estava na marquise e qualquer coisa que acontecesse, em ultima análise, refletiria nele, em ninguém mais.

Por anos, eu tenho escrito sobre Michael Jackson, muito, assistido às apresentações dele, muitas vezes, e discutido e debatido sobre ele em noticiários e programas de televisão sobre entretenimento. No mês seguinte, eu conduziria uma longa entrevista telefônica com ele, elaborada em perguntas enviada pelos fãs (e selecionadas pelos inúmeros assessores dele), que seria transmitida ao vivo na internet. Contudo, eu nunca o tinha testemunhado em situação como essa e era algo impressionante de se ver.

Isso me lembra, antes de tudo, de por que todo mundo se preocupava com Michael Jackson desde o início. Ele estava entre os mais incríveis artistas que eu já vi e a música dele podia ascender a pista de dança instantaneamente. Sempre que eu escuto a música dele, eu descubro coisas novas para amar nelas, toques inventivos que eu nunca tinha percebidos antes. Neste específico sentido, a morte dele foi uma benção: forçou as pessoas a reencontrar a arte dele e perceber, mais uma vez, quão importante ele é para elas, o quanto a música dele significa para a vida delas, para pessoas jovens que não cresceram com Michael Jackson, isso forneceu, talvez, a primeira oportunidade de escutar a música dele livre dos clichês preconceituosos sobre ele.

No entanto, não é o momento de desculpas. Não há dúvidas: Jackson deve suportar alguma responsabilidade pela razão de ele ter se tornado, eventualmente, pouco mais que uma piada, nos anos anteriores a morte dele. O comportamento dele e excentricidades frequentemente desviraram a atenção do trabalho dele. O que antes era uma ambição estimulante se tornou megalomania. Uma vez, em entrevista a Rolling Stone, para a matéria de capa, eu perguntei a Janet Jackson se ela poderia aceitar a ideia de que ela poderia, possivelmente, fazer um álbum e não vender. Ela me deu um olhar bondoso e zombeteiro como se eu tivesse, de repente, começado a falar uma língua estrangeira que não seria possível esperar que ela entendesse. O que poderia possivelmente significar criar um “ótimo” álbum que as pessoas não comprassem?

Essa é a ética comercial que os Jacksons assinam e Michael era mais fervorosamente crente nisso que Janet. Há compreensíveis razões para isso, assim como pessoais, mas não há dúvida de que o esforço de Michael em recriar o sucesso e o impacto de Thriller, para reviver o momento que fez o mundo dar valor a ele, prejudicou-o. Ainda, também não pode haver dúvidas de que a mídia caiu na armadilha psicológica que Jackson, inconscientemente, criou e avaliou todos os trabalhos pós-Thriller dele com o padrão comercial inatingível, para o inevitável desapontamento dele e da maioria.

Mas como Joe Vogel convincentemente demonstra neste ótimo e compreensivo livro, Jackson criou incrível e importante trabalho durante a carreira dele. Quando Jackson morreu, o homem e os problemas dele tinham ofuscado completamente a música. Como todo mundo que prestasse muita atenção em Jackson, eu, é claro, entendi como ele sentia o palco com o lugar da mais profunda felicidade. Até aquela noite no Madson Square Garden, eu pensava que era simplesmente sobre um incandescente artista queimando todas as outras questões com uma forte e destemida chama.

Quando eu vi Michael se preparar para a apresentação do trigésimo aniversário dele com inegável facilidade e tranquilidade, porém, ficou claro que ele estava feliz no palco porque ele era, antes de tudo, um artista; e a música dele significava mais para ele que qualquer outra coisa. Eu encontro aquele mesmo foco constante e comando que eu e testemunhei àquela noite, nas páginas de Man In The Music, um tributo que o trabalho fascinante de Michael Jackson mais que merece e faz jus.

Anthony DeCurtis é um contribuinte editor da Rolling Stone, onde o trabalho dele tem aparecido por mais de vinte e cinco anos e ele, ocasionalmente, escreve para o New York Times, assim como para a Rocking My Life Away. Ele é também editor do Present Tense: Rock & Roll na Culture e co-editor da Rolling Stone Illustred History of Rocking & Roll e The Rolling Stone Album Guide (3º edição). O ensaio de acompanhamento dele sobre o box set de Eric Clapton, Crossroad, ganhou o Grammy Award na categoria de Best Album Notes. Ele tem PhD em literatura americana e ensina em programas de escrita para a Universidade da Pensilvania.



























     
                  Jackson em um momento de descoberta na Bad World Tour em 1987.

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